Por várias vezes me encontrei como funcionário de uma instituição com o cargo de professor. Minhas atribuições geralmente não eram todas explícitas. O que o professor deve fazer? Preparar aula. Mas como? Precisa também aplicar prova. Que tipo de prova? Como corrigir? E Atender aos alunos, como?
Raramente (eu, pelo menos, em nenhuma das vezes) o professor recebe instruções ou indicações específicas sobre como trabalhar pedagogicamente. Os comentários do coordenador geralmente se limitam a comportamentos extremos de disciplina e o "nível de dificuldade" das provas.
Em conversas nas salas dos professores, eu nunca vi professores comentando sobre métodos de aulas e outras práticas para o cotidiano. Conversar sobre trabalho parece um tabu. Além de estar abandonado pela instituição, o professor não tem apoio profissional de seus colegas.
Hoje, então, o professor é um lobo solitário.
Acredito que isso aconteça como consequência do modelo tradicional de ensino. Nessa abordagem o professor é um deus dentro da sala de aula, é o detentor de todo o conhecimento, acima de qualquer questionamento. Por causa disso, ninguém, nem mesmo o coordenador do curso, quem dirá os colegas, pode comentar sobre seu método com os alunos. Para mim, isso tem muito jogo de ego e é um método ultrapassado.
Um dos efeitos dessa abordagem foi o que comentei: não existe equipe de professores, cada um trabalha individualmente, apesar de todos trabalharem juntos. Isso é ridículo e só acontece no campo educacional. Em qual outra área as pessoas trabalham assim? (não conta aquelas em que os colegas são competidores, como no caso de vendedores).
Vantagens são a total liberdade dos professores. Eu, por exemplo, não fui questionado em nenhum momento sobre o que eu iria passar em aula, desde que cumprisse a ementa até o fim do semestre. Outra vantagem é a eficiência, uma vez que o professor não precisa comunicar com ninguém o que deve fazer, ele simplesmente vai e faz. Preciso pensar em outras vantagens do que fazemos hoje em dia. Vocês têm alguma proposta?
O problema é que como sou contra, fica difícil pensar em (mais) pontos positivos. As desvantagens que enxergo são várias. O professor, apesar de livre, fica isolado, sem referências e informações para trabalhar. Os alunos não enxergam relação entre as disciplinas, não percebem coesão no curso. Os professores, por não conversarem entre si, nunca analisam seu próprio trabalho e não pensam em novas formas de melhorar, não prestam atenção em seus erros e ficam cada vez mais arrogantes.
==
Cabeça Dura?
Comecei a conversar sobre problemas no curso que os alunos vêm reclamando comigo com um professor mais experiente. Tentei propor a ele um grupo de trabalho de professores para tentar consertar os problemas principais do curso para reduzir as desistências. Com o avanço da conversa, outros professores ouviram e começaram a participar também. Aparentemente todos têm vontade de participar mais desse tipo de conversa, mas como não há espaço formal para fazer isso, eles não fazem. Aliás, o estereótipo de professor é aquele que tem opinião para tudo e está sempre certo (olhem aí o método tradicional novamente).
"Meu aluno é pior que o seu!!" "Não, o meu é pior!"
Acontece que a conversa saiu do assunto principal e tomou proporções mais gerais e menos estruturadas. Os professores começaram a reclamar dos alunos, que chegam pouco preparados, sem vontade e costume de estudar. Falaram que "só batendo que eles aprendem", que "temos que ser rígidos". Enquanto outros tinham um discurso de "se apertarmos demais eles espanam". Eu fiquei confuso e triste no meio de tanto discurso pronto e vazio dos professores. Nenhum estava disposto a ouvir o que o outro falava.
Essa é uma das principais lutas que coloquei para mim: tentar mudar o jeito dos professores pensarem e re-pensarem suas aulas e métodos. Vai ser uma briga longa...