segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Iniciativas em Ensino de Engenharia

Esse é um artigo muito feliz. Estou percebendo cada vez mais que o ensino de engenharia está se tornando um assunto importante (que mais pessoas acham relevante) e acadêmico (que as pessoas estão enxergando como uma disciplina, em que estudos e seus resultados formam uma base para a prática). Isso se reflete em iniciativas que colocam o ensino de engenharia em primeiro plano.

Já devo ter comentado que o Insper está abrindo um curso de engenharia influenciado pelos métodos da Olin College. Outra iniciativa é a do ITA, que vai dobrar de tamanho nos próximos anos, e que vai reformular o ensino nesse processo. Um amigo também comentou comigo que na Universidade Federal de São Carlos tem professores interessados no assunto, mas que não sabia se estavam estruturados.

Nos últimos dias, comecei a me relacionar com o grupo de estudos em ensino de engenharia da Escola Politécnica da USP, o Poli-Edu. Acredito que vai ser muito interessante fazer parte desse grupo e vou publicar aqui sempre que houver alguma boa discussão lá. Aguardem!

O conteúdo mais concreto que tenho para mostrar neste artigo é a iniciativa da Unicamp, que está organizando seminários mensais sobre o tema. As palestras são organizadas pelo grupo de estudos em ensino de engenharia de lá. Fico muito orgulhoso pela universidade em que estudei a graduação, e que me traumatizou tanto, estar se mostrando inovadora nesse aspecto.

Confiram o vídeo!

O professor Renato Lopes apresenta sobre Ensino Baseado em Evidências e fala de algumas práticas comprovadamente boas para os alunos

É claro que minha visão é bem limitada do que está acontecendo no Brasil. Gostaria de saber se alguém conhece outras iniciativas no assunto, vai contribuir muito!! Você sabe de algum professor que gosta de ensinar? Conhece algum coordenador ou diretor disposto a se esforçar para melhorar o ensino?

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Habilidades: Engenharizando a pedagogia

Adoro conceitos da pedagogia que são compreensíveis para engenheiros. E tem um conceito muito interessante que é bem parecido com aqueles que estamos acostumados na engenharia. Se chama taxonomia de Bloom.

Definição de etapas de um processo! Tudo o que um engenheiro quer!

Veja só, a teoria diz que os processos cognitivos seguem uma sequência de etapas. Então, quando uma pessoa aprende algo, ou quando queremos analisar qual é o "estado" de conhecimento de uma pessoa sobre algum assunto, podemos verificar qual o nível que ela possui em cada etapa. Calma, vou primeiro listar as etapas dos processos cognitivos e depois apresentar exemplos:

1) Conhecer - a pessoa sabe que algo existe. Ela consegue reconhecer, listar, e identificar conceitos de um certo assunto.
2) Entender - a pessoa compreende algo. Ela, além de reconhecer, entende e sabe explicar sobre um conceito do assunto em questão.
3) Aplicar - a pessoa consegue aplicar um conceito. Então, dada uma certa situação, pelo fato de entender o conceito, consegue aplicá-lo para resolver um problema.
4) Analisar - a pessoa enxerga e analisa várias formas de abordar uma situação, além de simplesmente resolver o problema.
5) Avaliar - em seguida, ela pode avaliar todas essas possibilidades e decidir qual é a melhor.
6) Criar - por fim, no último nível ela consegue criar novas formas de abordar uma situação, por conseguir avaliar possibilidades e descobrir suas fraquezas, tentando amenizá-las em sua proposta.

Existe muito material sobre esse assunto por aí. Textos que vão explicar muito melhor do que eu. O que você achou dessa organização?

Agora vou dar exemplos. Vejo que a maior parte das disciplinas que eu cursei foca no nível 3 - aplicar. Isso se reflete pelas provas e listas de exercício lotadas de atividades que o aluno precisa aplicar um conceito que aprendeu para resolver uma situação. Isso tem uma desvantagem, porque avaliando apenas o nível 3, o professor não consegue diferenciar os que têm os níveis 1 e 2 e aqueles que nem isso tem. (No caso de um aluno que não consegue aplicar nenhum conceito)

Outro exemplo, tendo consciência desses níveis, o professor pode preparar aulas que trabalharão mais certas habilidades do que outras. Eu comecei minha disciplina atual já na 2a aula pedindo para os alunos aplicarem, o que pode ter sido um erro, pois eles mesmo reclamaram que não conheciam, nem entendiam o que estavam aplicando. Talvez tenha sido um acerto, pois eles conseguiram se motivar a pensar e entender o que estava acontecendo, já no meio da solução de um problema. Preciso ainda refletir sobre o que aconteceu.

Principalmente, na hora de elaborar uma avaliação explícita, o professor pode preparar perguntas que se referem a níveis de habilidades específicos nessa hierarquia. Então você pode fazer perguntas fáceis, médias e difíceis sobre o conhecer um conceito, outras sobre a compreensão do conceito e outros sobre aplicação do mesmo conceito.

Agora, eu gostaria de ajudar meus alunos a desenvolverem habilidades de nível 4. Isso é um grande desafio. Como vocês acham que posso fazer isso? Vocês já tiveram esse tipo de experiência (tanto como aluno quanto como professor)?

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Habilidades: O que seu aluno sabe fazer?

Que habilidades você tem? Como você consegue descrever aquilo que sabe e aquilo que não sabe fazer? Note que saber fazer é diferente de saber. Geralmente nós professores nos preocupamos apenas com o saber, com o conteúdo que vamos "ensinar" aos alunos. Existem várias vantagens se nos preocuparmos também com o que os alunos sabem fazer, as habilidades deles.

Imagine-se você planejando as aulas de uma disciplina. O que você faz? Na primeira aula você prepara uma apresentação. Na segunda aula define que conteúdo vai abordar, na terceira também. Até a data da prova. Eu acho que isso não é suficiente.

Com relação a cada conteúdo, o que seu aluno consegue fazer?

Se você trata o conteúdo apenas como "conteúdo", que o aluno sabe ou não sabe, você deixa de considerar aspectos importantes para a aprendizagem dele, e também para o seu trabalho. Um passo em direção a ter mais explícito o que acontece nos processos de ensino e aprendizagem é considerar, além dos conteúdos, as habilidades que você quer desenvolver em cada aula com o aluno.

Por exemplo, na primeira aula você pode querer que os alunos conheçam o contexto em que a sua disciplina está inserido. Na segunda, você quer que os alunos saibam reconhecer elementos fundamentais do conteúdo. Na terceira, você quer que eles entendam a relação entre eles. Em seguida, que apliquem esses elementos para resolver um certo tipo de problema, etc.

Acredito que esse tipo de abordagem seja mais completa do que aquela que considera apenas o conteúdo. Assim você consegue discernir melhor o que cada aluno consegue fazer, detalhar melhor os objetivos que você tem com a disciplina e com cada aula, avaliar mais cuidadosamente cada aluno, etc.

Isso é uma mudança de paradigma. Eu tenho dificuldades em aplicar isso o tempo todo. Preciso me concentrar bastante para não esquecer disso e continuar fazendo o tradicional. Algum de vocês já pensou ou tentou aplicar isso em suas aulas? Como foi?

É a primeira vez que vocês veem algo assim? O que acharam, ajuda? O que muda na prática?

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Professor: Lobo Solitário? E cabeça dura?

Por várias vezes me encontrei como funcionário de uma instituição com o cargo de professor. Minhas atribuições geralmente não eram todas explícitas. O que o professor deve fazer? Preparar aula. Mas como? Precisa também aplicar prova. Que tipo de prova? Como corrigir? E Atender aos alunos, como?

Raramente (eu, pelo menos, em nenhuma das vezes) o professor recebe instruções ou indicações específicas sobre como trabalhar pedagogicamente. Os comentários do coordenador geralmente se limitam a comportamentos extremos de disciplina e o "nível de dificuldade" das provas.

Em conversas nas salas dos professores, eu nunca vi professores comentando sobre métodos de aulas e outras práticas para o cotidiano. Conversar sobre trabalho parece um tabu. Além de estar abandonado pela instituição, o professor não tem apoio profissional de seus colegas.

Hoje, então, o professor é um lobo solitário.

Acredito que isso aconteça como consequência do modelo tradicional de ensino. Nessa abordagem o professor é um deus dentro da sala de aula, é o detentor de todo o conhecimento, acima de qualquer questionamento. Por causa disso, ninguém, nem mesmo o coordenador do curso, quem dirá os colegas, pode comentar sobre seu método com os alunos. Para mim, isso tem muito jogo de ego e é um método ultrapassado.

Um dos efeitos dessa abordagem foi o que comentei: não existe equipe de professores, cada um trabalha individualmente, apesar de todos trabalharem juntos. Isso é ridículo e só acontece no campo educacional. Em qual outra área as pessoas trabalham assim? (não conta aquelas em que os colegas são competidores, como no caso de vendedores).

Vantagens são a total liberdade dos professores. Eu, por exemplo, não fui questionado em nenhum momento sobre o que eu iria passar em aula, desde que cumprisse a ementa até o fim do semestre. Outra vantagem é a eficiência, uma vez que o professor não precisa comunicar com ninguém o que deve fazer, ele simplesmente vai e faz. Preciso pensar em outras vantagens do que fazemos hoje em dia. Vocês têm alguma proposta?

O problema é que como sou contra, fica difícil pensar em (mais) pontos positivos. As desvantagens que enxergo são várias. O professor, apesar de livre, fica isolado, sem referências e informações para trabalhar. Os alunos não enxergam relação entre as disciplinas, não percebem coesão no curso. Os professores, por não conversarem entre si, nunca analisam seu próprio trabalho e não pensam em novas formas de melhorar, não prestam atenção em seus erros e ficam cada vez mais arrogantes.

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Cabeça Dura?

Comecei a conversar sobre problemas no curso que os alunos vêm reclamando comigo com um professor mais experiente. Tentei propor a ele um grupo de trabalho de professores para tentar consertar os problemas principais do curso para reduzir as desistências. Com o avanço da conversa, outros professores ouviram e começaram a participar também. Aparentemente todos têm vontade de participar mais desse tipo de conversa, mas como não há espaço formal para fazer isso, eles não fazem. Aliás, o estereótipo de professor é aquele que tem opinião para tudo e está sempre certo (olhem aí o método tradicional novamente).

"Meu aluno é pior que o seu!!" "Não, o meu é pior!"

Acontece que a conversa saiu do assunto principal e tomou proporções mais gerais e menos estruturadas. Os professores começaram a reclamar dos alunos, que chegam pouco preparados, sem vontade e costume de estudar. Falaram que "só batendo que eles aprendem", que "temos que ser rígidos". Enquanto outros tinham um discurso de "se apertarmos demais eles espanam". Eu fiquei confuso e triste no meio de tanto discurso pronto e vazio dos professores. Nenhum estava disposto a ouvir o que o outro falava.

Essa é uma das principais lutas que coloquei para mim: tentar mudar o jeito dos professores pensarem e re-pensarem suas aulas e métodos. Vai ser uma briga longa...