segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Fazemos projetos para tirar nota e jogar no lixo...

Há um vídeo resume resultados científicos que mostram o quanto uma pessoa trabalha com relação ao retorno que recebe da atividade (prêmio). Os estudos também tratam do fato de alguém avaliar o produto final do trabalho da pessoa e mostrar que aquilo significou algo é relevante para ela. Recomendadíssimo:

Para uma versão com legendas em português, acesse aqui.


Essa é uma situação que afeta nossas vidas em geral, sendo mais reconhecida na relação empregado-empregador, como usado de exemplo no vídeo. Porém, isso também vale para o ensino, principalmente em engenharia.

Um amigo meu me contou outro dia o seguinte caso. Ele e uns amigos, durante a faculdade, fizeram uma disciplina Laboratório de Eletrônica. Nela, um professor de outra engenharia (química, eu acho) pediu um dispositivo sensor para um certo experimento. O grupo fez um circuito meia boca no prazo estipulado, o professor deu 10, mas ele não estava bom o suficiente para o químico utilizá-lo. Então, um dos membros do grupo se motivou e, durante as férias após as provas finais do semestre, melhorou o circuito e o calibrou de forma que, no ano seguinte, entregou para o químico a solução funcionando. Ele nunca aprendeu tanto em qualquer outro momento da faculdade.

Geralmente nós na faculdade fazemos trabalhos propostos pelo professor que não têm propósito algum, apenas aquele de cumprir a ementa da disciplina e dar notas aos alunos. Além disso, a forma com que os conduzimos faz com que os produtos finais sejam meros demonstrativos para a apresentação final, que irão para o lixo logo depois da aula.

Não seria mais legal se estudássemos e trabalhássemos em projetos que fossem aproveitados depois? Mesmo que fossem para nós mesmos! Os próprios estudos relatados no vídeo mostram: se eu tenho apenas motivação externa (notas) e meu trabalho não significa nada para ninguém, minha motivação é muito baixa.

Como alguém sem motivação vai gostar do curso? Você que é estudante, como se sente?

Durante minha graduação, nenhuma vez um professor chegou para mim e disse para melhorar meu projeto após entregá-lo. Eu apenas recebia uma nota, boa ou ruim, mas nunca tive oportunidade de receber retorno do professor e concluir de verdade um projeto. Acredito que isso poderia melhorar muito a aprendizagem dos alunos, e não daria muito trabalho para a instituição.

Além do retorno para indicar como é importante e como pode melhorar, projetos realizados nas faculdades (ou em escolas, também) devem ser motivados pela necessidade real de alguém. Devem produzir algo que funcione, que tem propósito, algo que facilita ou melhora a vida de uma pessoa. Essa é uma forma de motivar e dar mais responsabilidade aos alunos, vários aprimoramentos para o processo educacional.

Uma das disciplinas mais legais que fiz na faculdade, e que o projeto tinha uma certa utilidade, foi uma competição de pontes de palitos de sorvete!!


Uma pena que só houve uma rodada. Teria sido muito interessante se a competição permitisse que os alunos que não foram muito bem melhorassem suas pontes... e aprendessem mais...

Gostaria de saber se alguém já teve experiências assim? Como foi? Ou, caso contrário, como não foi? Quantos projetos já foram para o lixo...

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Como fazer uma prova mais justa

Eu já fiz muitas provas na vida, e hoje vejo que muitas delas eram bem injustas. Injustas no sentido de não dar notas altas para alunos que sabiam o que o professor queria que eles soubessem e não dar notas baixas para os alunos que não sabiam nada. Então, hoje eu trabalho para tentar fazer uma prova justa.

E a sua sentença é: 3,5!! Reprovado!

Existem livros e mais livros sobre como fazer uma avaliação somativa escrita (vulgo: prova) mais justa. Eu vou tentar listar aqui algumas dicas simples:

- Faça questões de vários tipos

Como pessoas pensam e aprendem de maneira diferente, é injusto cobrá-las na prova que se expressem de uma única maneira. Assim, você privilegia (e condiciona) as pessoas a pensarem e se expressarem apenas de uma forma. As perguntas tem que ser abertas, fechadas, dissertativas, de múltipla escolha, de resolução de problema, de execução de procedimento, etc.

- Faça questões de vários níveis de dificuldade

Uma pessoa que tira 0,0 em uma prova pode não saber nada, mas pode saber bastante, mas não ter conseguido resolver as perguntas, se todas forem difíceis demais. Então é interessante colocar perguntas fáceis para alunos que só sabem as fáceis, médias para aqueles que sabem as médias e as fáceis, e difíceis, para aqueles que saibam todas. Aí sim, você vai conseguir dividir (simplificadamente) os alunos que sabem pouco, dos que sabem médio e dos que sabem tudo.

- Faça questões que reflitam seus objetivos (diferentes habilidades)

Se seus objetivos incluem conhecer, entender, aplicar, analisar, etc. a prova deve conter questões que, separadamente, avaliem cada uma dessas habilidades! Se você faz questões que só avalia uma das habilidades, ou não sabe qual questão avalia qual habilidade, você não consegue saber o que o aluno realmente sabe... e é esse o objetivo da prova!!

Esse é um começo. O que vocês acham? Será possível (e bom) fazer uma prova com essas características?

Que outras características vocês acham importantes e eu não citei aqui? Se quiserem eu tento escrever um pouco sobre elas depois!

Até a próxima!

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Multi, Inter e Transdiciplinaridade

Vou ser rápido para não ser chato. Em qualquer campo de estudo há termos que são difíceis de compreender e quem é de fora até usa esses termos mas não da maneira correta. Apesar da educação ser um assunto mais genérico em que muita gente consegue discutir (o que geralmente não ocorre com controle robusto, por exemplo), ela também possui palavras assim.

Um exemplo é o trio: multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar. Eu mesmo demorei bastante para entender a diferença. Vejam uma imagem que resume bem a diferença entre elas:

Multi, inter e transdisciplinaridades em diagramas!!

Explicando o diagrama:
  • Multidisciplinar - algo que usa pelo menos duas disciplinas
  • Interdisciplinar - a intersecção entre duas ou mais disciplinas
  • Transdisciplinar - um campo novo que nasce da junção de duas ou mais disciplinas
Exemplos:
  • Multidisciplinar - museu de ciências, onde há vários experimentos separados, cada um em seu ramo
  • Interdisciplinar - informática aplicada à educação, que é uma área definida pela intersecção de informática e educação
  • Transdisciplinar - ciência do serviço (em inglês service science), uma área que estuda cientificamente a humanidade dos serviços
O que acham? Gostaram de algum termo em específico?

Querem que eu tente explicar "engenharisticamente" algum outro termo da educação? É só falar!!

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Níveis de Realidade em uma Aula

Eu estava pensando com meus botões sobre os defeitos da disciplina que leciono atualmente. Percebi uma relação interessante entre o que é passado ou feito em sala de aula e o que é feito na vida real, quando os alunos enfrentam problemas reais (não artificiais), seja na vida profissional ou pessoal. Eu tento elaborar atividades o mais próximas possíveis do que os alunos vão enfrentar depois de formados. Meus objetivos com isso são (1) motivar os alunos com aulas interessantes e significativas; e (2) que as aulas realmente os preparem para as situações do futuro.

Aulas podem ser mais reais ou menos, em função de sua proximidade com problemas enfrentados fora da instituição de ensino.

Mas veja só, em meu caso, há vários passos que eu deveria tomar para deixar minhas aulas ainda mais próximas das situações reais. Primeiro vou descrever como faço as aulas e depois vou tentar elaborar níveis mais abstratos e os mais reais de aula...

Faço o seguinte: converso com outros especialistas na área e reflito sobre problemas reais. A partir da lista de problemas reais, eu elaboro uma adaptação para a infraestrutura que possuo no laboratório de informática da faculdade. Então, quebro o problema em várias partes e passo aos alunos ajudando-os quando têm problemas.

Aspectos que afastam as atividades que dou aos alunos da realidade:
  1. Contexto. Como o ambiente em que é feita a solução do problema não é um ambiente similar ao que é usado nas empresas e outras instituições profissionais, a atividade que dou aos alunos é distante da realidade. Tenho que tentar aproximar o contexto em que a atividade é realizada o máximo possível do que se encontra fora da faculdade.
  2. Formato. Como eu controlo o formato da atividade em função dos alunos, da duração da aula, da proximidade da prova, entre outros, com o objetivo de facilitar o trabalho dos alunos, a tarefa fica longe do que se vê em um emprego, por exemplo. Não que isso seja necessariamente ruim, mas é um aspecto que, se você tem o objetivo de tornar a aula mais próxima da realidade, atrapalha.
  3. Necessidade. Como eu que pensei no problema, a necessidade do problema não existe, só faz sentido no contexto da minha disciplina, é artificial. Se a necessidade de solução do problema que passo aos alunos fosse de alguém que dependesse do resultado do trabalho deles, a aula seria mais próxima da realidade que enfrentam na vida profissional.
No final, para eu aproximar as atividades que dou em aula da realidade, eu deveria:
  • Aproximar a infraestrutura do laboratório de informática da faculdade ao daquela que os alunos vão encontrar nos empregos. Não mais usar os termos "imagine que", "dado que", etc, porque o aluno já terá o contexto muito próximo do real a sua frente, não vai precisar imaginar...
  • Aproximar o formato das atividades ao do real, o que pode ser feito reduzindo a influência da duração da aula, controlar (ou não) o tempo e a prioridade nas tarefas, liberar acesso à Internet para consulta, etc.
  • Fazer com que a necessidade de resolver o problema seja real, que o resultado do trabalho dos alunos seja útil para alguém, mesmo que sejam os próprios alunos. Muitas vezes professores conseguem trazer empresas com problemas para os alunos resolverem, isso é ótimo!
No meu caso, o que poderia piorar é afastar ainda mais a necessidade da realidade, como dar problemas abstratos e fora do contexto do curso de tecnologia em redes. Poderia também piorar o contexto, como dar exercícios de rede em computadores não conectados. Entre outras coisas.

Não digo que aproximar as aulas da realidade seja algo necessário para todas as situações pedagógicas. Fiz esse artigo para ajudar quem acha que seria interessante aplicar isso.

O que acham?