segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Resumo do 1o semestre como professor

No 2o semestre de 2013 comecei a dar aulas na Fatec. Neste artigo faço um resumo da disciplina que ministrei para o curso tecnólogo em redes, cujo conteúdo principal era shell script.

Comecei a disciplina com uma aula para conhecer os alunos. Nela levei scripts com códigos avançados para os alunos tentarem entender. Eles gostaram e me falaram que não gostam de programar, mas gostam de redes. Isso comprovou minha hipótese e reforçou minha proposta de fazer a disciplina ter apenas exemplos de scripts para problemas de redes. Artigo original.

Para a aula seguinte preparei uma atividade que resumiria grande parte do conteúdo específico da linguagem de programação da disciplina. Pensei nisso porque os alunos falaram que viram muita programação, então eles levariam pouco tempo para assimilar a sintaxe de uma nova linguagem. Engano meu, os alunos não saíram do lugar. Por isso tive que replanejar todo o curso. Artigo original. Artigo original.

Seguiu-se uma série de aulas em que eu trazia um problema de redes (geralmente simplificado e um pouco abstrato para a situação do laboratório de informática da faculdade), que os alunos teriam que resolver usando scripts. Essas aulas correram bem mas meio desorganizadas, pois os alunos demoraram mais tempo do que eu havia pensado para cada uma. O que fez eu replanejar de novo.

Exemplo de alunos tentando resolver os problemas nas atividades

Fiz a primeira prova abordando todo o conteúdo das atividades, que correspondia a quase toda a ementa. Isso foi possível porque eu passei uma atividade para cada item nela. O que não garante que os alunos tenham aprendido tudo o que se espera de cada conteúdo, mas pelo menos já dava para eles terem uma noção do que cada conteúdo é. Assim cumpri a ementa e fiquei livre para usar outras abordagens na segunda metade do curso. A prova foi longa e cansativa para os alunos, cobrindo os conteúdos sob vários aspectos. No final os alunos foram bem e gostaram da experiência.

Após a prova pedi para os alunos definirem um projetinho para realizarem nas aulas seguintes. O projeto deveria ser feito em grupo, envolver algum conceito de rede e scripts em shell. Os projetos foram bem legais, os alunos conseguiram avançar razoavelmente e eu consegui ajudá-los na maior parte das vezes. Foi uma experiência interessante para eles, eu percebi. O fato de eles poderem escolher o tema fez bastante diferença.

Como eu tinha que repor algumas aulas perdidas antes de eu começar a trabalhar, propus o seguinte: vamos fazer uma prova sobre o conteúdo da disciplina e um conteúdo geral sobre redes. Para os alunos estudarem eu separei um conjunto de vídeos no youtube. Então pedi para eles escolherem quando preferem fazer essa prova, quando poderão ver os vídeos e fazer a prova. Isso não deu certo, no final eu tive que marcar a prova e eles não estudaram todos os vídeos.

Por fim, fiz a segunda prova muito parecida com a primeira. A grande diferença é que havia perguntas sobre o projeto que realizaram. Eu pedi para eles relacionarem o que eles fizeram no projeto com o que foi visto na outra parte da disciplina, e para tentarem extrapolar como o projeto ou como a disciplina poderia ter sido realizada. Na última aula eles apresentaram os projetos para os colegas em 5 minutos para cada grupo. Eu quis gravá-los apresentando mas eles não gostaram da ideia.

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Tentei resumir o que aconteceu durante a disciplina nesse artigo. Nos próximos vou tentar analisar com mais profundidade alguns assuntos que achei importantes, como o que deu errado, o que deu mais certo, a motivação dos alunos, ensino baseado em projeto e as avaliações dos alunos e dos cursos. Até lá!

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Alunos bons e alunos ruins

Conversando com outros professores colegas na instituição em que trabalho como docente, sempre que falamos dos cursos e turmas vêm à tona quem são os alunos bons e quem são os alunos ruins. Chega ao ponto em que a turma é mais facilmente reconhecida pelos funcionários quando identificamos os alunos "bons":

- Eu dou aula para o 3o semestre do curso de redes
- Hmmm, não conheço essa turma... Ah, lembrei, é a turma do Joãozinho não é?
A joia dos olhos dos professores! A única motivação de continuar dando aulas.


Mas o que faz um aluno bom, de maneira que o professor deixa de prestar atenção em toda a turma e prestar atenção apenas nele? Alunos bons são "inteligentes", "esforçados", "interessados", etc. Enquanto que os alunos ruins não têm nenhuma dessas características. Parece que faz parte do trabalho do professor perceber quais alunos são bons, quais são ruins e quais "conseguem passar na matéria".

Professores adoram comentar sobre como os alunos bons são bons, e criticar os alunos ruins. "Ah, nessa turma só o Joãozinho se salva, os outros são ruins!"
"É mesmo, eu dei uma prova outro dia e só ele tirou nota boa..."

Acho toda essa conversa muito triste, muito errada. Acredito que o papel do professor é desenvolver interesse nos alunos, para que cada um trabalhe sua inteligência no que gosta e se esforce nisso. Esse é um ensino bom e para todos!

Existem muitos tipos de alunos "bons", os interessados, os curiosos, e aqueles que fazem de tudo para tirar boas notas. Não gosto de valorizar aqueles que só querem tirar notas, para mim esse é um aluno ruim. Do outro lado, existem vários tipos de alunos "ruins", os bagunceiros, os que estão cansados demais, os desinteressados. Grande parte deles está sedenta por aulas boas e conteúdos interessantes... onde estão?

O que acontece na prática é que o professor identifica os alunos que funcionam bem com o seu jeito de trabalhar e simplesmente ignora os outros, ou os culpa por não se adaptarem às suas aulas. A culpa é sempre do aluno! Os alunos de hoje em dia são ruins! Os alunos só querem saber de festa!

O professor deve fazer com que todos os alunos fiquem bons, cada um do seu jeito. O professor não deve simplesmente agraciar os "bons" e eliminar os "ruins". Muitos alunos ruins podem se tornar bons com uma mudança de atitude dos professores. No fim das contas, as notas boas dos bons alunos não são mérito dos professores, pois eles já eram bons antes de terem as aulas. Enquanto que as notas ruins dos alunos ruins podem ser a demonstração do trabalho ruim de professores ruins.

Defendendo o lado dos professores

Esse comportamento dos professores é (parcialmente) justificado. Principalmente no ensino básico, as condições de trabalho são muito ruins. Tenho um amigo professor que dava aula para 17 turmas e tinha quase 1000 alunos. Como uma pessoa consegue administrar tanta gente e trabalhar para que todos fiquem bons? Acho muito difícil...

Isso se reflete também no ensino superior. Hoje em dia há muitas turmas com 60, 80 e até 120 alunos. Essas situações condicionam o trabalho do professor a um nível muito ruim, eles perdem a sensibilidade com alunos que exigem outras formas de trabalho. Assim, quando trabalham em condições favoráveis, com poucas turmas de poucos alunos, não têm vontade ou conhecimento para fazer um bom trabalho.

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Enquanto isso a educação se resume a julgar e separar os alunos bons dos alunos ruins...

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Como o governo constrói cursos

Esse é um artigo onde falo de como fui contratado e como percebo que as coisas funcionam nas instituições públicas de ensino.

Isso se reflete também no ensino superior...

Fui contratado como professor temporário para lecionar em um curso novo da Fatec em seu 4o semestre de existência. Soube da vaga na primeira quinzena de agosto, fui escolhido sem que o coordenador entrevistasse outros candidatos. Isso aconteceu porque ele estava com muita pressa, os alunos já estavam perdendo aulas. Enquanto esperava a contratação, fui estudar o que lecionaria pois não sou especialista no assunto.

Como o processo de contratação é lento, comecei a dar aulas antes do início do contrato. Isso fez os alunos não perderem 3 aulas, o que é muito relevante. Por causa do início atrasado das aulas, a disciplina foi encurtada, o conteúdo um pouco espremido. Tive que fazer um planejamento estranho. De qualquer forma, acredito que consegui contornar a situação.

Por que estou falando de tudo isso? Quero ressaltar alguns pontos. Um: a instituição pública contrata professores em caráter emergencial ao longo dos novos semestres de um curso. Era a primeira vez que o 4o semestre do curso era oferecido, sem professores, a instituição espera o semestre começar para ir atrás deles. Eu acho que ela deveria se precaver, contratar professores concursados o suficiente para os alunos não ficarem sem aulas. Será que dá muito trabalho ou seria muito caro ter professores o suficiente?

Dois: falta bons candidatos para as vagas de professor. Modéstia à parte acho que era um bom candidato para a vaga, mas eu não sou especialista na área. Dessa forma, a Fatec não tem opções para escolher quais os melhores professores que quer para seus alunos. Três: um agravante é que eu realmente não fui atraído pela carreira. A carreira de professor na Fatec é muito ruim, não consegue atrair muitos bons profissionais. Além disso, não consegue manter bons profissionais. O salário é baixo em comparação com o do ensino privado, não há expectativa de promoção de cargos (se bem que a diferença entre o valor da hora de aula entre professor assistente e professor associado é de menos de 5 reais).