segunda-feira, 23 de setembro de 2013

4a Aula - Replanejamento

No último artigo comentei que na aula em questão havia dado aos alunos uma atividade de desenvolvimento razoavelmente complexa. E por isso os alunos se sentiram tão perdidos que nem conseguiam formular suas dúvidas. Meu desafio para a aula seguinte era então ajudá-los a organizar suas mentes e conseguir avançar na atividade.

Eu já tinha começado a pensar no replanejamento das aulas em função do que aconteceu. Coloquei aqui no blog minhas angústias e pelas conversas que tive e os comentários que recebi consegui reorganizar a aula seguinte. Acho que essa é a principal lição disso tudo: temos que avaliar constantemente nossa abordagem para saber sua efetividade. Se estiver baixa, precisamos replanejar!

Se uma jogada não deu certo, reveja seus planos!

Meu diagnóstico da última aula foi: os alunos ainda não estão acostumados a associar os conhecimentos de uma linguagem de programação para outra rapidamente, eles se assustam com a sintaxe da nova linguagem e não conseguem nem pensar no algoritmo para resolver uma solução. Assim, eu tinha dois pontos para atacar: (1) ajudar os alunos a organizarem a solução do problema elaborando um algoritmo independente da sintaxe da nova linguagem e (2) ajudá-los passo a passo a se acostumar com essa sintaxe.

Esse último parágrafo ficou muito específico para quem é da área de computação. Vou tentar reescrever de maneira mais genérica. Reconheci duas dificuldades nos alunos na última aula, (1) em organizar o pensamento no novo contexto, e (2) aplicar novos conhecimentos. Acredito que isso tenha sido pela falta de suporte vindo do professor, eu "errei a mão" e fui rápido demais para eles. Foram nesses dois pontos que agi.

Assim, a nova aula começou com uma discussão sobre os resultados da aula seguinte, para eles se expressarem e eu me explicar. Expliquei porque fiz o que fiz e minhas intenções. Disse que nas próximas aulas eu os ajudaria mais mas continuaria com meus valores. Assim, dei a eles atividades que começavam bem simples e ficavam mais complexas. Depois das atividades eu voltei a afirmar que ao longo da disciplina minha ajuda se voltará mais a buscar soluções em vez de entregá-las "mastigadas".

Planejei a aula para retomar a atividade da aula que não deu certo após o intervalo. Isso também não deu certo. Os alunos começaram a fazer as atividades menores e foram passando às demais em um ritmo mais lento do que previ, o que tomou o período após o intervalo também. Por mim tudo bem, pois acompanhei eles bem de perto e vi que o desafio estava em um nível motivador.

O próximo passo é tentar contextualizar melhor as atividades e manter o nível de desafio adequado aos alunos. Eu comentei com eles que era provável que atividades mais simples poderiam faltar contexto, e um deles me respondeu "Professor, faça com que as atividades mais simples sejam parte de uma maior, com um contexto bom".


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

3a Aula - Dúvidas

Continuando a série de artigos sobre as aulas que ministro na Fatec, essa é a aula que planejei para os alunos colocarem a mão na massa finalmente! Planejei tudo bonitinho com relação à ementa da disciplina, previ que os alunos ficariam super felizes de finalmente poderem criar scripts similares àqueles que viram na aula anterior. Um problema, porém, eu não previ direito: as dúvidas.

Hahaha! As imagens sobre dúvidas são hilárias!

Antes de deixá-los enfrentar a tela em branco para começar a programar, eu dei a eles os scripts que leram na aula passada, mas com várias explicações a mais. Assim eles conseguiriam tirar as dúvidas que tinham ainda sobre alguns detalhes do código. Isso cumpriria a parte de "conhecer" e "entender". Vamos agora para o "aplicar".

Então dei para eles um enunciado que definia o comportamento de um script razoavelmente simples. Esse script usaria apenas estruturas básicas da linguagem, todas existentes nos scripts que leram. Por isso achei que eles iriam terminar a atividade super rápido. Eis que algum tempo depois vou conversar com eles e todos estão com uma cara de interrogação olhando para o enunciado e para a tela em branco: "Professor não sei nem por onde começar..."

Eu me senti bem triste, pois tinha planejado para eles conseguirem fazer a atividade que passei. Eles falaram, e os outros professores também, que já tinham experiência em programação, até demais para um curso de redes. Mas essa experiência não foi suficiente para eles compreenderem e resolverem o problema que passei. Eu perguntei muitas vezes: "Qual é a sua dúvida?", a resposta geralmente era: "Todas".

O que fazer nesse momento? Como um professor deve se comportar na situação em que todos os alunos têm tantas dúvidas que não conseguem avançar? Bom, a primeira coisa que eu fiz foi ter certeza de que meu planejamento deveria ser revisto, e que as próximas atividades que eu passar para os alunos não deveriam seguir o mesmo modelo dessa que passei. A condução da disciplina deve considerar (idealmente em tempo real) a forma com que os alunos respondem às atividades.

Bom, mas e na hora? Eu não sei bem. Primeiramente eu tentei forçá-los a usar os scripts que tinha passado e buscar na Web como resolver os problemas que estavam enfrentando. Mas eles estavam bem perdidos, e isso não ajudava muito. Eu tive que intervir, tentei fazer pessoalmente de forma a dar a dica específica para cada um. Isso ajudou, mas os alunos não ficaram muito felizes: "Poxa professor, nós precisamos de uma base antes".

Depois eu tentei fazer uma discussão com eles, falei que minha abordagem é diferente da dos demais professores, que passam a teoria toda (de mão beijada) para os alunos e depois passa exercícios para eles aplicarem exatamente aquilo que aprenderam. Eu gostaria de fazê-los aprender diretamente na prática, quebrarem a cabeça e explorarem o conteúdo apenas orientados por mim. Aparentemente isso não deu certo, pelo menos nessa aula.

Acho que isso deve ter acontecido porque eu errei a mão, fiz um exercício muito complexo. Talvez se eu tivesse começado por um (ou vários) mais simples teria sido melhor. Mas acho que outro fator também contribuiu. Os alunos estão acostumados a não investigarem sozinhos o conteúdo, não estão acostumados a serem emancipados. Eu quero desenvolver isso neles! A questão agora é: como fazer isso sem deixá-los frustrados?

Vamos ver se na próxima aula eu já tenho a resposta.

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O que acharam? Fui muito maluco? Como eu posso arrumar um meio termo entre o que eles estão acostumados e o que eu gostaria de desenvolver neles? Estou aberto a sugestões!!

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

2a Aula - Desafio

Na segunda aula meu objetivo era colocar os alunos em contato com o conteúdo específico da disciplina de forma que eles tenham uma ideia do que estudarão ao longo do semestre. Minhas expectativas eram que os alunos, ao saber o que veriam no futuro, se interessassem e se motivassem a estudar mais.

Mas apenas mostrar aos alunos o que eles verão na disciplina não é suficiente para motivá-los. Aliás, geralmente ninguém presta atenção e a disciplina começa na verdade a partir da aula seguinte. Então eu precisava fazer diferente, precisava chamar a atenção dos alunos para o conteúdo da disciplina, eu precisava de desafiá-los!
Você aceita o desafio?

Desafiar os alunos logo na segunda aula foi um método que encontrei para tornar o conteúdo da disciplina interessante e motivador. Antes de explicar o que eu fiz exatamente, vou sintetizar sobre o que é a disciplina que estou trabalhando. O conteúdo trata de programas de computador em formato de texto (mais especificamente scripts, a linguagem chama ShellScript) com o objetivo de resolver problemas relacionados a redes de computadores.

Fiz o seguinte, separei uns scripts razoavelmente difíceis de entender, o que normalmente o aluno só veria no final da disciplina, e dei para os alunos lerem, compreenderem e me explicarem em linhas gerais o que eles faziam. Dividi a turma em grupos, limitei o tempo de análise de cada script em 15 minutos, e também limitei as perguntas que eles poderiam me fazer a uma por script.

Trabalhando em grupo os alunos podem discutir hipóteses e avançar mais rapidamente na análise do material desconhecido. Limitar o tempo de leitura dos scripts faz com que o aluno trabalhe sob pressão e se concentre melhor. Limitar as perguntas ao professor força o aluno a se virar mais e a trabalhar com buscas na Web como fonte primária de informação.

Como pedi para os alunos me explicarem em linhas gerais o que cada script faz, eles não precisavam se preocupar com detalhes da linguagem (e expliquei que era isso que eles iriam aprender ao longo do semestre), e os alunos em geral conseguiram cumprir a missão. Isso me surpreendeu e me fez acreditar que meus alunos são muito bons.

Foi muito engraçado. Em um momento estavam eles todos conversando e agitados enquanto eu explicava como seria a dinâmica da atividade. Depois que eu falei "comecem, o tempo está rolando", a sala de repente ficou em um silêncio mortal, com todos os alunos lendo atentamente os scripts. Isso mostrou que os alunos estão interessados e que a atividade foi um sucesso.

Uma coisa que não deu muito certo foi a contextualização que eu quis fazer. Tentei simular uma situação em que os alunos fossem recém contratados em uma empresa e que os scripts tinham sido escritos por um funcionário que já não trabalha mais lá. Falei de um problema que precisaria ser resolvido naquela hora e que talvez um script daqueles entregues ajudaria a resolver.

Alguns alunos tentaram focar em descobrir se o script que tinham em mãos era o que resolvia o problema. Isso foi interessante. Mas em geral esse objetivo ficou secundário frente ao de descobrir o que os scripts faziam. Além disso, nenhum dos scripts realmente ajudava a resolver o problema que eu apresentei a eles. Nas próximas atividades, prestarei atenção em não dar dois objetivos conflitantes aos alunos...

O que achou dessa aula que preparei? O que mais gostou? O que acha que poderia ser melhor? Você é professor e estaria disposto a usar essa técnica? Gostaria muito de ajudar e de ouvir a opinião de vocês!

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

1a Aula - Diagnóstico

Gostaria de compartilhar com vocês o que fiz na 1a aula do curso que estou responsável atualmente, que comentei em linhas gerais no último artigo. Nos próximos artigos vou tentar manter o relato do andamento do curso e algumas reflexões.

Como disse antes, acho que cada curso deve se adaptar às necessidades e interesses dos alunos. Então para a primeira aula eu preparei atividades focadas em tentar descobrir quem são os alunos, o que eles gostam, o que eles querem, o que eles já viram no curso, entre outras informações. Essa então foi a aula diagnóstica.

Você conhece seus alunos como um médico conhece seus pacientes?

Uma analogia interessante com a profissão de médico é a seguinte. Você vai no médico para pedir um tratamento. O médico te recebe, não ouve o que você tem, e ainda diz: veja, tome esse remédio aqui. Então você diz, mas doutor, eu nem falei o que estou sentindo. Ele responde, não precisa, hoje é terça feira e são 10h da manhã, então o remédio que dou é esse aqui. Isso é o que acontece muitas vezes na relação professor e aluno.

Para evitar isso, nessa aula, eu preparei duas atividades: uma para entender os alunos de maneira geral e outra para entender o quanto eles conhecem do conteúdo que abordarei na disciplina. Para isso, preparei dois formulários no google drive e separei um tempo na aula para discussão das perguntas e respostas que eles escreveram. A ideia era gastar todos os 100 minutos da aula com: 1) apresentação do professor, 2) preenchimento do 1o formulário, 3) discussão, 4) preenchimento do 2o formulário e 5) discussão.

O primeiro formulário, de caráter mais geral, foi longo demais na minha opinião, com 21 questões. Só percebi isso quando os alunos mostraram estar cansados de responder perguntas. Veja abaixo a lista de perguntas que fiz:

  1. Você terminou o ensino médio há quanto tempo?
  2. Já fez outros cursos técnicos/profissionais/superiores? Quais?
  3. Você trabalha atualmente? Qual é sua função no emprego?
  4. Já trabalhou em outro lugar com redes ou TI? Como era?
  5. Quais são suas expectativas para o restante do curso de tecnologia em redes?
  6. Qual é o papel que esse curso tem em seu projeto pessoal/profissional?
  7. Em que deseja trabalhar ou estudar depois que se formar?
  8. O que você menos gosta no curso de tecnologia em redes? Por quê?
  9. O que você mais gosta? Por quê?
  10. Quais habilidades ou competências você mais valoriza para um profissional? Por quê?
  11. Quais habilidades você mais valoriza para a vida? por quê?
  12. Quais habilidades você acredita estar desenvolvendo mais nesse curso? Por quê?
  13. Quais habilidades mais gostaria de desenvolver? Por quê?
  14. Como você acha que poderia desenvolver essas habilidades?
  15. Qual foi a melhor disciplina que já fez do curso? Por quê?
  16. Qual a pior disciplina que já fez do curso? Por quê?
  17. Como você acha que as disciplinas que está cursando agora podem te ajudar na vida profissional?
  18. Quais são suas expectativas para esta disciplina?
  19. Como você gostaria de estudar nesta disciplina?
  20. Prefere fazer trabalhos ou provas? 
  21. Prefere vários projetos pequenos ou um grande? Por quê? 

Ainda acho que preciso melhorar bastante em como preparar essa aula-diagnóstico. Eu tentei abordar todos os temas possíveis, desde o histórico pessoal dos alunos até o que eles desejam aprender e como preferem estudar. Você acha essa lista longa demais? Que perguntas acha mais interessantes? E quais são desnecessárias?

Enfrentei problemas práticos para aplicar o formulário. Por exemplo, em uma turma a conexão com a Internet estava muito ruim, o que dificultou o acesso ao formulário. Então combinamos que os alunos preencheriam o formulário em outro horário e ali pelo menos cada um se apresentaria, com um histórico profissional e depois falaria sobre como enxerga o curso e o que espera da disciplina. Nesse ponto os alunos se apresentaram, falaram bem sobre o que trabalhavam e trabalham atualmente e passaram a relatar os problemas que enfrentam no curso.

Em geral, reclamaram que veem poucos assuntos relacionados a redes e muita coisa de programação. Com relação às expectativas da disciplina eles não tinham muita, porque não sabiam ainda sobre o que seria. Nessa hora falei o que pretendia e como prometi passar exemplos sempre de problemas relacionados a redes, eles ficaram satisfeitos.

Para a segunda etapa usei bem menos tempo do que a primeira, pois tinha menos informação e como os alunos já tinham respondido parte das perguntas, foi tranquilo. Fiquei contente que os alunos têm conhecimentos bons das disciplinas relacionadas mas não muito do que iremos ver diretamente. Ah, vejam a lista das perguntas que fiz no segundo formulário:

  1. A disciplina será sobre programação de scripts para problemas de redes. Era isso que esperava ver na disciplina? Se não, o que era?
  2. Você conhece alguma coisa de Shellscript, Bash, Pearl ou VBS?
  3. Você trabalha ou já trabalhou com algo relacionado a isso? Como?
  4. Você tem contato com alguém que trabalha ou trabalhou com isso? Como essa pessoa trabalha(va)?
  5. Como você acha que é (ou deve ser) trabalhar com esse assunto? Por quê?
  6. Qual é a importância desse conteúdo para você profissionalmente?
  7. Você tem algum interesse específico nesse tema?

Acredito que no final a aula foi muito boa, pois consegui cumprir o objetivo que era conhecer os alunos e espero que os alunos tenham me conhecido e entendido a minha abordagem.

Gostaria muito de ouvir a opinião de vocês, principalmente com sugestões de como melhorar.