segunda-feira, 27 de maio de 2013

Professor Fácil, Difícil, Legal e Chato - E professor bom?

Quando eu estava na faculdade, tive a brilhante ideia de classificar os professores em duas dimensões, se as disciplinas que ele ministrava eram fáceis ou difíceis, e se ele era legal ou chato.

Esse aqui parece bonzinho...

Professor fácil e chato - aquele que é sério ou reclamão, em cuja aula todos dormem ou ficam conversando, porque ninguém se interessa, mas todos se sentem tranquilos em passar na disciplina...

Professor fácil e legal - esse adora contar histórias, chama o pessoal para tomar cerveja, não cobra presença e deixa todo mundo de boa na aula, com os da frente prestando atenção no que ele fala.

Professor difícil e chato - o pior de todos, o verdadeiro carrasco. Em geral os alunos se matriculavam nas disciplinas com esses professores apenas quando não havia outra possibilidade. Professores desse tipo não permitiam aos alunos viver tranquilamente, e além de tudo eram super rigorosos nas provas, sem deixar nem que o aluno revisasse.

Professor difícil e legal - era o que eu mais gostava. Com professores assim todos eram forçados a estudar para passar nas provas, mas era agradável assistir às aulas e conversar com ele para tirar as dúvidas.

É claro que hoje em dia, depois de estudar um pouco e pensar um pouco mais sobre o tema, acho ridículo classificar professores em apenas duas dimensões. Assim fica parecendo os jornais de televisão que falam superficialmente de um assunto se colocando como dono da verdade.

Ainda na época da faculdade, um grupo de alunos fazia uma avaliação dos professores. Eles pediam aos alunos para darem uma nota ao professor sobre: interesse, planejamento, didática e domínio da matéria. Essa já é uma avaliação mais sofisticada e que começa a dar uma ideia melhor de como é o professor.

Eu estou levantando esse tema, porque li recentemente uma pergunta na rede social Quora que dizia: "Qual é o melhor professor de faculdade que você conhece?", e cujas respostas me deixaram intrigado. Por causa disso comecei a pensar: o que faz um professor bom de verdade?

A maioria das respostas desse artigo do Quora falam sobre professores super famosos que dão aulas-show incríveis e motivantes. Elas são sensacionais mesmo, sugiro a todo mundo assistir aos vídeos dessas aulas. Acredito que se tivéssemos professores motivados e motivadores assim em nossas faculdades, as vidas de todos seriam bem diferentes.

Outro grupo de professores que são bastante citados são aqueles que aparecem em cursos online de grande escala. Esses professores têm uma grande capacidade de transmitir uma mensagem muito claramente pelos meios da Internet. Esses dois tipos de professores são muito bons e são exemplos para os docentes em geral.

Mas ainda, para mim, resta a pergunta: seriam esses professores realmente bons? Será que essas características seriam suficientes para classificar um professor nessa categoria? Eu acho que não. Eu acho que é preciso muito mais para considerar um professor bom. Mesmo durante meus estudos, comentava com os amigos: "tal professor é bom, o outro não", e a justificativa era sempre: a aula dele é boa, ou a aula dele não é boa. Essa é uma visão superficial que os alunos em geral têm ao avaliar os professores: a qualidade da aula é a qualidade do professor.

Um professor bom deve ser muito mais que um bom palestrante.

Isso é bem ruim. O trabalho do professor é muito maior do que apenas dar aula, dar uma palestra. Dar uma boa explicação é necessário para classificar um professor como bom, mas não é suficiente. Devemos avaliá-lo também em outros critérios. A avaliação que os alunos faziam na faculdade que cursei considera, por exemplo, planejamento e interesse.

Para começar, professor deve entender do assunto, deve saber como explicar o assunto, deve conhecer seus alunos, deve conhecer sua faculdade, deve considerar tudo isso em sua aula, deve motivar, provocar, perceber o que falta para um aluno aprender e ajudá-lo a compreender conceitos em geral, elaborar boas provas, bons trabalhos, bons problemas, avaliar bem os alunos, dar um bom retorno a eles, e a lista é longa. O que mais você acha que um professor bom deve ser/fazer?

Mais para frente vou fazer um artigo inteiro sobre as competências esperadas para o professor, como estudei em uma disciplina na faculdade de educação no ano passado. Em que ponto específico vocês gostariam que eu focasse mais?

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Profissionalismo de Profissionais da Educação

No artigo anterior, comentei que fui numa dinâmica sobre empreendedorismo social em educação. Nessa ocasião, exploramos como podemos criar negócios, empresas, com alto impacto social voltados à educação. Isso me lembrou de um assunto problemático: parece que qualquer um pode trabalhar com educação, que não precisa de formação para isso. Não quero criticar o evento, ele só ajudou a levantar o tema. Mas muitas vezes é isso mesmo que acontece, seria isso bom? Considero grave o problema da falta de profissionalismo dos profissionais de educação, apesar de parecer um paradoxo.

Charge no blog "Problogger".

Existem diversas formas de entender a palavra profissional. Pode ser alguém que tem uma profissão, ou mesmo alguém que tem um emprego (o que é bem diferente). Eu gostaria de considerar profissional alguém que estudou e tem uma profissão e aplica o que estudou em sua profissão com profissionalismo. Profissionalismo é outra palavra chata com diversas interpretações. Aqui eu vou apelar para o dicionário mesmo:
  • Cumprimento do trabalho com seriedade, rigor, competência; procedimento do que é bom profissional. Infopédia.
  • Ação, procedimento, qualidade ou característica do bom profissional, daquele que é competente, capaz, proficiente, responsável, sério, pontual, ético etc. em sua profissão. Aulete.

É verdade, eu uso dicionários online gratuitos e não tenho um dicionário em papel.

Como isso se relaciona com o ramo da educação, especificamente com o ensino de engenharia? É aí que o bicho pega. Em muitos casos, pessoas trabalham com educação sem ter formação, e por causa de vários fatores, elas deixam de ser competentes, sérios, éticos e responsáveis em seus trabalhos. Não sou competente o suficiente para justificar bem essa afirmação, então vou me focar no que vejo em cursos de engenharia.


Voltando ao evento que participei, gostaria de fazer uma nota. Não é qualquer um que pode atuar com profissionalmente em educação, mas um empreendedor bom (social ou não)  pode conseguir ótimos resultados em educação. Porém, para que tenha impacto real, deve considerar o seu profissionalismo e o profissionalismo de seus funcionários. Deve cobrar e dar condições para que tenham competência, responsabilidade, e todas as outras características de um verdadeiro profissional.


Em cursos de engenharia temos vários cargos: professor, monitor, diretor, coordenador, etc. Eu consigo afirmar que nesses casos falta muito profissionalismo desses profissionais. Vi diversos casos de falta de ética, por exemplo. Pessoas preferidas conseguindo cargos ou prêmios sem considerar outras pessoas talvez mais merecedoras. "Jeitinhos" de fazer tarefas, seja para avaliar um aluno, para criar uma disciplina, para avaliar um curso. Vocês devem já ter imaginado e lembrado alguns, relate nos comentários casos de falta de profissionalismo de professores que viveu.

Não é só a falta de ética que fere o profissionalismo no ensino de engenharia. Vou falar de competência e responsabilidade de professores. Em minha vida acadêmica, enfrentei (pensem bem, usei o verbo "enfrentar") muitos professores incompetentes e irresponsáveis profissionalmente. Eles podem ser super competentes ou responsáveis como outros cargos e papéis na sociedade. Porém, como professores são uma negação. Isso é falta de profissionalismo.

Li outro dia uma pergunta no Quora, sobre os melhores professores de faculdade que conheceram. Eu ainda vou fazer um artigo específico sobre o que li nesse caso, gostaria só de salientar que chegar em uma sala de aula, cumprir o horário e a ementa de uma disciplina não faz de uma pessoa um professor profissional. Mesmo assim, dar uma boa palestra é necessário mas não é suficiente para ser um professor competente. Estamos cheios de professores amadores, que não são responsáveis em suas atividades.

Aula encantadora de um professor estadunidense. Suficiente para definir sua competência?

Acredito que esse é um dos maiores problemas dos cursos de engenharia, um problema que poucos têm consciência e muito menos atitude para mudar. Eu tenho algumas ideias, mas não sei muito bem ainda como poderemos resolvê-lo. Gostaria da ajuda de todos para atuar nisso. Vocês concordam que precisamos mudar como os cursos funcionam? Que devemos aumentar o profissionalismo de nossos professores e coordenadores?

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Palestra sobre Ensino de Engenharia

Ontem um amigo me avisou que haveria hoje uma palestra sobre ensino de engenharia na Escola Politécnica da USP, dada por uma professora da Universidade de Stanford. Confira a descrição da palestra aqui.


Obs: veja só o nome do laboratório. É tão interessante que eu poderia fazer um artigo inteiro só para explorar esse nome... * ideias *

Infelizmente não consegui ir na palestra, ela me pareceu muito interessante. Por favor, se alguém assistiu ou soube de alguma informação adicional, coloque nos comentários. Vou agradecer bastante.

Quero usar este artigo, na verdade, para falar sobre eventos e formações em ensino de engenharia, e também dos meus planos com relação a esse assunto. Primeiro, eu acho imprescindível a existência de eventos e cursos sobre ensino de engenharia, apenas iniciativas dessa natureza podem começar a mudar a realidade dos cursos de graduação e pós-graduação em engenharia (e outros relacionados). Com o tempo, quero transformar este Blog em um centralizador de informações sobre o assunto. É possível que já exista algo do tipo, procurei apenas superficialmente. Se alguém souber de algo, por favor me avise. Sempre que eu souber, vou atualizar o conteúdo aqui.

Segundo, apesar de serem super interessantes, essas iniciativas são muitas vezes marginalizadas e ignoradas pela grande maioria dos profissionais do ramo. Isso é um indício da importância dada pelos professores a uma formação em ensino de engenharia, é a nossa cultura. Pode ser um indício também da importância dada pelas instituições, sejam faculdades, agências de fomento ou o próprio governo. Veja o currículo da professora que deu a palestra, ele prova que trabalhar bem como professor e inclusive pesquisar sobre o assunto permite ter uma carreira acadêmica notável, o que muitos podem achar que é impossível.

Por fim, quero anunciar que vou preparar um curso à distância e um conjunto de encontros presenciais para discutir o ensino de engenharia. Os artigos que escrevi até agora são mais conceituais e menos práticos. Os próximos terão também informações mais práticas, que servirão para alimentar o conteúdo do curso. Posteriormente, vou publicar aqui as experiências que tivermos nos cursos e encontros. Se alguém quiser contribuir ou estiver interessado em participar, me avise que a gente vai conversando.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Um pouco de Empreendedorismo e Empreendedorismo Social

Esta semana eu fui ao "Choice Day", que é um evento de divulgação do empreendedorismo social, um assunto que me interesso bastante. O Choice é um movimento com o objetivo de divulgar a possibilidade de criar e trabalhar em negócios sociais. Ele funciona como um braço da Artemisia, uma ONG que orienta e acelera negócios sociais.

Choice tem o slogan: mudar o mundo começa com a sua escolha.

O tema do evento era "Negócios Sociais em Educação", é por isso que estou escrevendo sobre ele aqui. O que nós fizemos foi uma dinâmica sobre dados da educação no Brasil, depois elaboramos ideias de empresas sociais no ramo da educação e no final avaliamos essas ideias: os participantes estavam divididos em empreendedor e investidor.

O material usado era muito bom, havia dicas para os empreendedores e investidores pensarem de maneira mais estruturada, modelos para os empreendedores preencherem e reduzir as falhas em seus projetos. Cada equipe recebeu desafios específicos: Educação de Jovens e Adultos (EJA), Formação de Professores e Participação da Comunidade. Temas que quem não é do ramo da educação dificilmente conhece e sabe a importância, posso falar sobre eles depois se vocês quiserem. Eu gostei muito da experiência, da motivação dos monitores e do trabalho da Artemisia. Estão de parabéns. Mais para frente eu vou querer estudar e estar mais em contato com esse ramo.

Apesar de haver poucos engenheiros entre os participantes, o engraçado foi que as ideias de todas as equipes tinham como produto um website. Acho engraçado porque parece que hoje a Internet se mostra como um meio para a solução de tudo. Eu, vindo de um mestrado em "Informática aplicada à Educação", estou em uma fase que a computação/informática só vai ajudar mesmo a educação quando for usada de maneira inovadora, e não para digitalizar os mesmos processos educacionais tradicionais (vejam um vídeo sobre esse assunto).

De qualquer forma, preciso relacionar este artigo com o tema do blog. Vou fazer isso de duas formas: primeiro vou falar de empreendedorismo e empreendedorismo social, e depois vou falar de profissionalismo na educação (que tratarei em outro artigo).

Empreendedorismo nos Cursos de Engenharia

Empreendedorismo está em alta hoje em dia. Esse é um produto de vários fatores, dos quais destaco: perfil da geração Y, crise financeira mundial, crescimento exponencial das oportunidades da Internet. Muitos engenheiros se identificam com a carreira, eu inclusive tenho vários amigos empreendedores. Para citar um caso, vejam o Empreendemia.

Rede social para negócios é produto de trabalho árduo de engenheiros.

Engenheiros, para serem empreendedores geralmente têm que estudar muito, fora da faculdade. Apesar de vários conceitos de engenharia ajudarem empreendedores, o que é ensinado nos cursos de engenharia em geral está muito longe do que os empreendedores precisam. Formas diferentes de pensar, criatividade, comunicação, dinamismo, e várias outras habilidades não-técnicas essenciais para o empreendedor (importantes para o engenheiro), não são consideradas nos cursos.

Por isso eu defendo uma reformulação dos cursos de engenharia (e outros também) de forma a incluírem em seus currículos e em suas avaliações essas habilidades. Precisamos ter mais cursos de criatividade, inovação, perseverança, etc. Não defendo cursos sobre esses assuntos usando os mesmos moldes dos cursos de hoje.  Precisamos de cursos diferentes, que engajam alunos e professores a desenvolverem essas habilidades.

Sobre esse assunto eu gostaria muito de ouvir a opinião de vocês. Principalmente aqueles que enfrentam a carreira de empreendedor. Minha opinião de fora do ramo é muito diferente da de vocês?

Empreendedorismo Social nos Cursos de Engenharia

Um assunto um pouco mais delicado, e que para mim é muito importante hoje, é o empreendedorismo social e como ele poderia ser abordado em cursos de engenharia. Um empreendedor social precisa de todas as habilidades de um empreendedor comum, além de várias outras. A consideração dessas habilidades específicas para o empreendedor social está ainda mais longe da realidade dos cursos de engenharia.

Talvez nem seja uma habilidade, mas eu gostaria de destacar uma característica dos empreendedores sociais que não é tratada na faculdade: a "sensibilidade social". Por sensibilidade social eu quero dizer a consciência de que a vida será melhor para todos se nossas ações (e empreendimentos) trabalharem na direção de uma sociedade mais justa/igualitária. Essa ideia vai contra muita coisa que as pessoas normalmente acreditam, ela envolve valores profundo nas almas das pessoas e precisa de coragem para assumir. Eu defendo que a sensibilidade social seja sim abordada nos cursos de engenharia, possivelmente associada a empreendedorismo. Acredito inclusive que muita gente seja contra isso. Você é contra? Gostaria de saber a sua opinião.

Isso depende muito dos objetivos de uma instituição (seja universidade ou instituto/faculdade) e do curso. No meu caso defendo objetivos que ajudem a formar pessoas integrais, além de engenheiros e empreendedores. E para isso, a sensibilidade social é muito importante. Gostaria de cursos de engenharia ajudando a desenvolver criatividade, empreendedorismo, pensamento crítico e também visão geral do mundo, consciência das ações pessoais e das empresas. E porque não responsabilidade de mudar o mundo para melhor? (e para todos).