segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Resumo do 1o semestre como professor

No 2o semestre de 2013 comecei a dar aulas na Fatec. Neste artigo faço um resumo da disciplina que ministrei para o curso tecnólogo em redes, cujo conteúdo principal era shell script.

Comecei a disciplina com uma aula para conhecer os alunos. Nela levei scripts com códigos avançados para os alunos tentarem entender. Eles gostaram e me falaram que não gostam de programar, mas gostam de redes. Isso comprovou minha hipótese e reforçou minha proposta de fazer a disciplina ter apenas exemplos de scripts para problemas de redes. Artigo original.

Para a aula seguinte preparei uma atividade que resumiria grande parte do conteúdo específico da linguagem de programação da disciplina. Pensei nisso porque os alunos falaram que viram muita programação, então eles levariam pouco tempo para assimilar a sintaxe de uma nova linguagem. Engano meu, os alunos não saíram do lugar. Por isso tive que replanejar todo o curso. Artigo original. Artigo original.

Seguiu-se uma série de aulas em que eu trazia um problema de redes (geralmente simplificado e um pouco abstrato para a situação do laboratório de informática da faculdade), que os alunos teriam que resolver usando scripts. Essas aulas correram bem mas meio desorganizadas, pois os alunos demoraram mais tempo do que eu havia pensado para cada uma. O que fez eu replanejar de novo.

Exemplo de alunos tentando resolver os problemas nas atividades

Fiz a primeira prova abordando todo o conteúdo das atividades, que correspondia a quase toda a ementa. Isso foi possível porque eu passei uma atividade para cada item nela. O que não garante que os alunos tenham aprendido tudo o que se espera de cada conteúdo, mas pelo menos já dava para eles terem uma noção do que cada conteúdo é. Assim cumpri a ementa e fiquei livre para usar outras abordagens na segunda metade do curso. A prova foi longa e cansativa para os alunos, cobrindo os conteúdos sob vários aspectos. No final os alunos foram bem e gostaram da experiência.

Após a prova pedi para os alunos definirem um projetinho para realizarem nas aulas seguintes. O projeto deveria ser feito em grupo, envolver algum conceito de rede e scripts em shell. Os projetos foram bem legais, os alunos conseguiram avançar razoavelmente e eu consegui ajudá-los na maior parte das vezes. Foi uma experiência interessante para eles, eu percebi. O fato de eles poderem escolher o tema fez bastante diferença.

Como eu tinha que repor algumas aulas perdidas antes de eu começar a trabalhar, propus o seguinte: vamos fazer uma prova sobre o conteúdo da disciplina e um conteúdo geral sobre redes. Para os alunos estudarem eu separei um conjunto de vídeos no youtube. Então pedi para eles escolherem quando preferem fazer essa prova, quando poderão ver os vídeos e fazer a prova. Isso não deu certo, no final eu tive que marcar a prova e eles não estudaram todos os vídeos.

Por fim, fiz a segunda prova muito parecida com a primeira. A grande diferença é que havia perguntas sobre o projeto que realizaram. Eu pedi para eles relacionarem o que eles fizeram no projeto com o que foi visto na outra parte da disciplina, e para tentarem extrapolar como o projeto ou como a disciplina poderia ter sido realizada. Na última aula eles apresentaram os projetos para os colegas em 5 minutos para cada grupo. Eu quis gravá-los apresentando mas eles não gostaram da ideia.

==

Tentei resumir o que aconteceu durante a disciplina nesse artigo. Nos próximos vou tentar analisar com mais profundidade alguns assuntos que achei importantes, como o que deu errado, o que deu mais certo, a motivação dos alunos, ensino baseado em projeto e as avaliações dos alunos e dos cursos. Até lá!

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Alunos bons e alunos ruins

Conversando com outros professores colegas na instituição em que trabalho como docente, sempre que falamos dos cursos e turmas vêm à tona quem são os alunos bons e quem são os alunos ruins. Chega ao ponto em que a turma é mais facilmente reconhecida pelos funcionários quando identificamos os alunos "bons":

- Eu dou aula para o 3o semestre do curso de redes
- Hmmm, não conheço essa turma... Ah, lembrei, é a turma do Joãozinho não é?
A joia dos olhos dos professores! A única motivação de continuar dando aulas.


Mas o que faz um aluno bom, de maneira que o professor deixa de prestar atenção em toda a turma e prestar atenção apenas nele? Alunos bons são "inteligentes", "esforçados", "interessados", etc. Enquanto que os alunos ruins não têm nenhuma dessas características. Parece que faz parte do trabalho do professor perceber quais alunos são bons, quais são ruins e quais "conseguem passar na matéria".

Professores adoram comentar sobre como os alunos bons são bons, e criticar os alunos ruins. "Ah, nessa turma só o Joãozinho se salva, os outros são ruins!"
"É mesmo, eu dei uma prova outro dia e só ele tirou nota boa..."

Acho toda essa conversa muito triste, muito errada. Acredito que o papel do professor é desenvolver interesse nos alunos, para que cada um trabalhe sua inteligência no que gosta e se esforce nisso. Esse é um ensino bom e para todos!

Existem muitos tipos de alunos "bons", os interessados, os curiosos, e aqueles que fazem de tudo para tirar boas notas. Não gosto de valorizar aqueles que só querem tirar notas, para mim esse é um aluno ruim. Do outro lado, existem vários tipos de alunos "ruins", os bagunceiros, os que estão cansados demais, os desinteressados. Grande parte deles está sedenta por aulas boas e conteúdos interessantes... onde estão?

O que acontece na prática é que o professor identifica os alunos que funcionam bem com o seu jeito de trabalhar e simplesmente ignora os outros, ou os culpa por não se adaptarem às suas aulas. A culpa é sempre do aluno! Os alunos de hoje em dia são ruins! Os alunos só querem saber de festa!

O professor deve fazer com que todos os alunos fiquem bons, cada um do seu jeito. O professor não deve simplesmente agraciar os "bons" e eliminar os "ruins". Muitos alunos ruins podem se tornar bons com uma mudança de atitude dos professores. No fim das contas, as notas boas dos bons alunos não são mérito dos professores, pois eles já eram bons antes de terem as aulas. Enquanto que as notas ruins dos alunos ruins podem ser a demonstração do trabalho ruim de professores ruins.

Defendendo o lado dos professores

Esse comportamento dos professores é (parcialmente) justificado. Principalmente no ensino básico, as condições de trabalho são muito ruins. Tenho um amigo professor que dava aula para 17 turmas e tinha quase 1000 alunos. Como uma pessoa consegue administrar tanta gente e trabalhar para que todos fiquem bons? Acho muito difícil...

Isso se reflete também no ensino superior. Hoje em dia há muitas turmas com 60, 80 e até 120 alunos. Essas situações condicionam o trabalho do professor a um nível muito ruim, eles perdem a sensibilidade com alunos que exigem outras formas de trabalho. Assim, quando trabalham em condições favoráveis, com poucas turmas de poucos alunos, não têm vontade ou conhecimento para fazer um bom trabalho.

==

Enquanto isso a educação se resume a julgar e separar os alunos bons dos alunos ruins...

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Como o governo constrói cursos

Esse é um artigo onde falo de como fui contratado e como percebo que as coisas funcionam nas instituições públicas de ensino.

Isso se reflete também no ensino superior...

Fui contratado como professor temporário para lecionar em um curso novo da Fatec em seu 4o semestre de existência. Soube da vaga na primeira quinzena de agosto, fui escolhido sem que o coordenador entrevistasse outros candidatos. Isso aconteceu porque ele estava com muita pressa, os alunos já estavam perdendo aulas. Enquanto esperava a contratação, fui estudar o que lecionaria pois não sou especialista no assunto.

Como o processo de contratação é lento, comecei a dar aulas antes do início do contrato. Isso fez os alunos não perderem 3 aulas, o que é muito relevante. Por causa do início atrasado das aulas, a disciplina foi encurtada, o conteúdo um pouco espremido. Tive que fazer um planejamento estranho. De qualquer forma, acredito que consegui contornar a situação.

Por que estou falando de tudo isso? Quero ressaltar alguns pontos. Um: a instituição pública contrata professores em caráter emergencial ao longo dos novos semestres de um curso. Era a primeira vez que o 4o semestre do curso era oferecido, sem professores, a instituição espera o semestre começar para ir atrás deles. Eu acho que ela deveria se precaver, contratar professores concursados o suficiente para os alunos não ficarem sem aulas. Será que dá muito trabalho ou seria muito caro ter professores o suficiente?

Dois: falta bons candidatos para as vagas de professor. Modéstia à parte acho que era um bom candidato para a vaga, mas eu não sou especialista na área. Dessa forma, a Fatec não tem opções para escolher quais os melhores professores que quer para seus alunos. Três: um agravante é que eu realmente não fui atraído pela carreira. A carreira de professor na Fatec é muito ruim, não consegue atrair muitos bons profissionais. Além disso, não consegue manter bons profissionais. O salário é baixo em comparação com o do ensino privado, não há expectativa de promoção de cargos (se bem que a diferença entre o valor da hora de aula entre professor assistente e professor associado é de menos de 5 reais).

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Fazemos projetos para tirar nota e jogar no lixo...

Há um vídeo resume resultados científicos que mostram o quanto uma pessoa trabalha com relação ao retorno que recebe da atividade (prêmio). Os estudos também tratam do fato de alguém avaliar o produto final do trabalho da pessoa e mostrar que aquilo significou algo é relevante para ela. Recomendadíssimo:

Para uma versão com legendas em português, acesse aqui.


Essa é uma situação que afeta nossas vidas em geral, sendo mais reconhecida na relação empregado-empregador, como usado de exemplo no vídeo. Porém, isso também vale para o ensino, principalmente em engenharia.

Um amigo meu me contou outro dia o seguinte caso. Ele e uns amigos, durante a faculdade, fizeram uma disciplina Laboratório de Eletrônica. Nela, um professor de outra engenharia (química, eu acho) pediu um dispositivo sensor para um certo experimento. O grupo fez um circuito meia boca no prazo estipulado, o professor deu 10, mas ele não estava bom o suficiente para o químico utilizá-lo. Então, um dos membros do grupo se motivou e, durante as férias após as provas finais do semestre, melhorou o circuito e o calibrou de forma que, no ano seguinte, entregou para o químico a solução funcionando. Ele nunca aprendeu tanto em qualquer outro momento da faculdade.

Geralmente nós na faculdade fazemos trabalhos propostos pelo professor que não têm propósito algum, apenas aquele de cumprir a ementa da disciplina e dar notas aos alunos. Além disso, a forma com que os conduzimos faz com que os produtos finais sejam meros demonstrativos para a apresentação final, que irão para o lixo logo depois da aula.

Não seria mais legal se estudássemos e trabalhássemos em projetos que fossem aproveitados depois? Mesmo que fossem para nós mesmos! Os próprios estudos relatados no vídeo mostram: se eu tenho apenas motivação externa (notas) e meu trabalho não significa nada para ninguém, minha motivação é muito baixa.

Como alguém sem motivação vai gostar do curso? Você que é estudante, como se sente?

Durante minha graduação, nenhuma vez um professor chegou para mim e disse para melhorar meu projeto após entregá-lo. Eu apenas recebia uma nota, boa ou ruim, mas nunca tive oportunidade de receber retorno do professor e concluir de verdade um projeto. Acredito que isso poderia melhorar muito a aprendizagem dos alunos, e não daria muito trabalho para a instituição.

Além do retorno para indicar como é importante e como pode melhorar, projetos realizados nas faculdades (ou em escolas, também) devem ser motivados pela necessidade real de alguém. Devem produzir algo que funcione, que tem propósito, algo que facilita ou melhora a vida de uma pessoa. Essa é uma forma de motivar e dar mais responsabilidade aos alunos, vários aprimoramentos para o processo educacional.

Uma das disciplinas mais legais que fiz na faculdade, e que o projeto tinha uma certa utilidade, foi uma competição de pontes de palitos de sorvete!!


Uma pena que só houve uma rodada. Teria sido muito interessante se a competição permitisse que os alunos que não foram muito bem melhorassem suas pontes... e aprendessem mais...

Gostaria de saber se alguém já teve experiências assim? Como foi? Ou, caso contrário, como não foi? Quantos projetos já foram para o lixo...

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Como fazer uma prova mais justa

Eu já fiz muitas provas na vida, e hoje vejo que muitas delas eram bem injustas. Injustas no sentido de não dar notas altas para alunos que sabiam o que o professor queria que eles soubessem e não dar notas baixas para os alunos que não sabiam nada. Então, hoje eu trabalho para tentar fazer uma prova justa.

E a sua sentença é: 3,5!! Reprovado!

Existem livros e mais livros sobre como fazer uma avaliação somativa escrita (vulgo: prova) mais justa. Eu vou tentar listar aqui algumas dicas simples:

- Faça questões de vários tipos

Como pessoas pensam e aprendem de maneira diferente, é injusto cobrá-las na prova que se expressem de uma única maneira. Assim, você privilegia (e condiciona) as pessoas a pensarem e se expressarem apenas de uma forma. As perguntas tem que ser abertas, fechadas, dissertativas, de múltipla escolha, de resolução de problema, de execução de procedimento, etc.

- Faça questões de vários níveis de dificuldade

Uma pessoa que tira 0,0 em uma prova pode não saber nada, mas pode saber bastante, mas não ter conseguido resolver as perguntas, se todas forem difíceis demais. Então é interessante colocar perguntas fáceis para alunos que só sabem as fáceis, médias para aqueles que sabem as médias e as fáceis, e difíceis, para aqueles que saibam todas. Aí sim, você vai conseguir dividir (simplificadamente) os alunos que sabem pouco, dos que sabem médio e dos que sabem tudo.

- Faça questões que reflitam seus objetivos (diferentes habilidades)

Se seus objetivos incluem conhecer, entender, aplicar, analisar, etc. a prova deve conter questões que, separadamente, avaliem cada uma dessas habilidades! Se você faz questões que só avalia uma das habilidades, ou não sabe qual questão avalia qual habilidade, você não consegue saber o que o aluno realmente sabe... e é esse o objetivo da prova!!

Esse é um começo. O que vocês acham? Será possível (e bom) fazer uma prova com essas características?

Que outras características vocês acham importantes e eu não citei aqui? Se quiserem eu tento escrever um pouco sobre elas depois!

Até a próxima!

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Multi, Inter e Transdiciplinaridade

Vou ser rápido para não ser chato. Em qualquer campo de estudo há termos que são difíceis de compreender e quem é de fora até usa esses termos mas não da maneira correta. Apesar da educação ser um assunto mais genérico em que muita gente consegue discutir (o que geralmente não ocorre com controle robusto, por exemplo), ela também possui palavras assim.

Um exemplo é o trio: multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar. Eu mesmo demorei bastante para entender a diferença. Vejam uma imagem que resume bem a diferença entre elas:

Multi, inter e transdisciplinaridades em diagramas!!

Explicando o diagrama:
  • Multidisciplinar - algo que usa pelo menos duas disciplinas
  • Interdisciplinar - a intersecção entre duas ou mais disciplinas
  • Transdisciplinar - um campo novo que nasce da junção de duas ou mais disciplinas
Exemplos:
  • Multidisciplinar - museu de ciências, onde há vários experimentos separados, cada um em seu ramo
  • Interdisciplinar - informática aplicada à educação, que é uma área definida pela intersecção de informática e educação
  • Transdisciplinar - ciência do serviço (em inglês service science), uma área que estuda cientificamente a humanidade dos serviços
O que acham? Gostaram de algum termo em específico?

Querem que eu tente explicar "engenharisticamente" algum outro termo da educação? É só falar!!

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Níveis de Realidade em uma Aula

Eu estava pensando com meus botões sobre os defeitos da disciplina que leciono atualmente. Percebi uma relação interessante entre o que é passado ou feito em sala de aula e o que é feito na vida real, quando os alunos enfrentam problemas reais (não artificiais), seja na vida profissional ou pessoal. Eu tento elaborar atividades o mais próximas possíveis do que os alunos vão enfrentar depois de formados. Meus objetivos com isso são (1) motivar os alunos com aulas interessantes e significativas; e (2) que as aulas realmente os preparem para as situações do futuro.

Aulas podem ser mais reais ou menos, em função de sua proximidade com problemas enfrentados fora da instituição de ensino.

Mas veja só, em meu caso, há vários passos que eu deveria tomar para deixar minhas aulas ainda mais próximas das situações reais. Primeiro vou descrever como faço as aulas e depois vou tentar elaborar níveis mais abstratos e os mais reais de aula...

Faço o seguinte: converso com outros especialistas na área e reflito sobre problemas reais. A partir da lista de problemas reais, eu elaboro uma adaptação para a infraestrutura que possuo no laboratório de informática da faculdade. Então, quebro o problema em várias partes e passo aos alunos ajudando-os quando têm problemas.

Aspectos que afastam as atividades que dou aos alunos da realidade:
  1. Contexto. Como o ambiente em que é feita a solução do problema não é um ambiente similar ao que é usado nas empresas e outras instituições profissionais, a atividade que dou aos alunos é distante da realidade. Tenho que tentar aproximar o contexto em que a atividade é realizada o máximo possível do que se encontra fora da faculdade.
  2. Formato. Como eu controlo o formato da atividade em função dos alunos, da duração da aula, da proximidade da prova, entre outros, com o objetivo de facilitar o trabalho dos alunos, a tarefa fica longe do que se vê em um emprego, por exemplo. Não que isso seja necessariamente ruim, mas é um aspecto que, se você tem o objetivo de tornar a aula mais próxima da realidade, atrapalha.
  3. Necessidade. Como eu que pensei no problema, a necessidade do problema não existe, só faz sentido no contexto da minha disciplina, é artificial. Se a necessidade de solução do problema que passo aos alunos fosse de alguém que dependesse do resultado do trabalho deles, a aula seria mais próxima da realidade que enfrentam na vida profissional.
No final, para eu aproximar as atividades que dou em aula da realidade, eu deveria:
  • Aproximar a infraestrutura do laboratório de informática da faculdade ao daquela que os alunos vão encontrar nos empregos. Não mais usar os termos "imagine que", "dado que", etc, porque o aluno já terá o contexto muito próximo do real a sua frente, não vai precisar imaginar...
  • Aproximar o formato das atividades ao do real, o que pode ser feito reduzindo a influência da duração da aula, controlar (ou não) o tempo e a prioridade nas tarefas, liberar acesso à Internet para consulta, etc.
  • Fazer com que a necessidade de resolver o problema seja real, que o resultado do trabalho dos alunos seja útil para alguém, mesmo que sejam os próprios alunos. Muitas vezes professores conseguem trazer empresas com problemas para os alunos resolverem, isso é ótimo!
No meu caso, o que poderia piorar é afastar ainda mais a necessidade da realidade, como dar problemas abstratos e fora do contexto do curso de tecnologia em redes. Poderia também piorar o contexto, como dar exercícios de rede em computadores não conectados. Entre outras coisas.

Não digo que aproximar as aulas da realidade seja algo necessário para todas as situações pedagógicas. Fiz esse artigo para ajudar quem acha que seria interessante aplicar isso.

O que acham?

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Iniciativas em Ensino de Engenharia

Esse é um artigo muito feliz. Estou percebendo cada vez mais que o ensino de engenharia está se tornando um assunto importante (que mais pessoas acham relevante) e acadêmico (que as pessoas estão enxergando como uma disciplina, em que estudos e seus resultados formam uma base para a prática). Isso se reflete em iniciativas que colocam o ensino de engenharia em primeiro plano.

Já devo ter comentado que o Insper está abrindo um curso de engenharia influenciado pelos métodos da Olin College. Outra iniciativa é a do ITA, que vai dobrar de tamanho nos próximos anos, e que vai reformular o ensino nesse processo. Um amigo também comentou comigo que na Universidade Federal de São Carlos tem professores interessados no assunto, mas que não sabia se estavam estruturados.

Nos últimos dias, comecei a me relacionar com o grupo de estudos em ensino de engenharia da Escola Politécnica da USP, o Poli-Edu. Acredito que vai ser muito interessante fazer parte desse grupo e vou publicar aqui sempre que houver alguma boa discussão lá. Aguardem!

O conteúdo mais concreto que tenho para mostrar neste artigo é a iniciativa da Unicamp, que está organizando seminários mensais sobre o tema. As palestras são organizadas pelo grupo de estudos em ensino de engenharia de lá. Fico muito orgulhoso pela universidade em que estudei a graduação, e que me traumatizou tanto, estar se mostrando inovadora nesse aspecto.

Confiram o vídeo!

O professor Renato Lopes apresenta sobre Ensino Baseado em Evidências e fala de algumas práticas comprovadamente boas para os alunos

É claro que minha visão é bem limitada do que está acontecendo no Brasil. Gostaria de saber se alguém conhece outras iniciativas no assunto, vai contribuir muito!! Você sabe de algum professor que gosta de ensinar? Conhece algum coordenador ou diretor disposto a se esforçar para melhorar o ensino?

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Habilidades: Engenharizando a pedagogia

Adoro conceitos da pedagogia que são compreensíveis para engenheiros. E tem um conceito muito interessante que é bem parecido com aqueles que estamos acostumados na engenharia. Se chama taxonomia de Bloom.

Definição de etapas de um processo! Tudo o que um engenheiro quer!

Veja só, a teoria diz que os processos cognitivos seguem uma sequência de etapas. Então, quando uma pessoa aprende algo, ou quando queremos analisar qual é o "estado" de conhecimento de uma pessoa sobre algum assunto, podemos verificar qual o nível que ela possui em cada etapa. Calma, vou primeiro listar as etapas dos processos cognitivos e depois apresentar exemplos:

1) Conhecer - a pessoa sabe que algo existe. Ela consegue reconhecer, listar, e identificar conceitos de um certo assunto.
2) Entender - a pessoa compreende algo. Ela, além de reconhecer, entende e sabe explicar sobre um conceito do assunto em questão.
3) Aplicar - a pessoa consegue aplicar um conceito. Então, dada uma certa situação, pelo fato de entender o conceito, consegue aplicá-lo para resolver um problema.
4) Analisar - a pessoa enxerga e analisa várias formas de abordar uma situação, além de simplesmente resolver o problema.
5) Avaliar - em seguida, ela pode avaliar todas essas possibilidades e decidir qual é a melhor.
6) Criar - por fim, no último nível ela consegue criar novas formas de abordar uma situação, por conseguir avaliar possibilidades e descobrir suas fraquezas, tentando amenizá-las em sua proposta.

Existe muito material sobre esse assunto por aí. Textos que vão explicar muito melhor do que eu. O que você achou dessa organização?

Agora vou dar exemplos. Vejo que a maior parte das disciplinas que eu cursei foca no nível 3 - aplicar. Isso se reflete pelas provas e listas de exercício lotadas de atividades que o aluno precisa aplicar um conceito que aprendeu para resolver uma situação. Isso tem uma desvantagem, porque avaliando apenas o nível 3, o professor não consegue diferenciar os que têm os níveis 1 e 2 e aqueles que nem isso tem. (No caso de um aluno que não consegue aplicar nenhum conceito)

Outro exemplo, tendo consciência desses níveis, o professor pode preparar aulas que trabalharão mais certas habilidades do que outras. Eu comecei minha disciplina atual já na 2a aula pedindo para os alunos aplicarem, o que pode ter sido um erro, pois eles mesmo reclamaram que não conheciam, nem entendiam o que estavam aplicando. Talvez tenha sido um acerto, pois eles conseguiram se motivar a pensar e entender o que estava acontecendo, já no meio da solução de um problema. Preciso ainda refletir sobre o que aconteceu.

Principalmente, na hora de elaborar uma avaliação explícita, o professor pode preparar perguntas que se referem a níveis de habilidades específicos nessa hierarquia. Então você pode fazer perguntas fáceis, médias e difíceis sobre o conhecer um conceito, outras sobre a compreensão do conceito e outros sobre aplicação do mesmo conceito.

Agora, eu gostaria de ajudar meus alunos a desenvolverem habilidades de nível 4. Isso é um grande desafio. Como vocês acham que posso fazer isso? Vocês já tiveram esse tipo de experiência (tanto como aluno quanto como professor)?

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Habilidades: O que seu aluno sabe fazer?

Que habilidades você tem? Como você consegue descrever aquilo que sabe e aquilo que não sabe fazer? Note que saber fazer é diferente de saber. Geralmente nós professores nos preocupamos apenas com o saber, com o conteúdo que vamos "ensinar" aos alunos. Existem várias vantagens se nos preocuparmos também com o que os alunos sabem fazer, as habilidades deles.

Imagine-se você planejando as aulas de uma disciplina. O que você faz? Na primeira aula você prepara uma apresentação. Na segunda aula define que conteúdo vai abordar, na terceira também. Até a data da prova. Eu acho que isso não é suficiente.

Com relação a cada conteúdo, o que seu aluno consegue fazer?

Se você trata o conteúdo apenas como "conteúdo", que o aluno sabe ou não sabe, você deixa de considerar aspectos importantes para a aprendizagem dele, e também para o seu trabalho. Um passo em direção a ter mais explícito o que acontece nos processos de ensino e aprendizagem é considerar, além dos conteúdos, as habilidades que você quer desenvolver em cada aula com o aluno.

Por exemplo, na primeira aula você pode querer que os alunos conheçam o contexto em que a sua disciplina está inserido. Na segunda, você quer que os alunos saibam reconhecer elementos fundamentais do conteúdo. Na terceira, você quer que eles entendam a relação entre eles. Em seguida, que apliquem esses elementos para resolver um certo tipo de problema, etc.

Acredito que esse tipo de abordagem seja mais completa do que aquela que considera apenas o conteúdo. Assim você consegue discernir melhor o que cada aluno consegue fazer, detalhar melhor os objetivos que você tem com a disciplina e com cada aula, avaliar mais cuidadosamente cada aluno, etc.

Isso é uma mudança de paradigma. Eu tenho dificuldades em aplicar isso o tempo todo. Preciso me concentrar bastante para não esquecer disso e continuar fazendo o tradicional. Algum de vocês já pensou ou tentou aplicar isso em suas aulas? Como foi?

É a primeira vez que vocês veem algo assim? O que acharam, ajuda? O que muda na prática?

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Professor: Lobo Solitário? E cabeça dura?

Por várias vezes me encontrei como funcionário de uma instituição com o cargo de professor. Minhas atribuições geralmente não eram todas explícitas. O que o professor deve fazer? Preparar aula. Mas como? Precisa também aplicar prova. Que tipo de prova? Como corrigir? E Atender aos alunos, como?

Raramente (eu, pelo menos, em nenhuma das vezes) o professor recebe instruções ou indicações específicas sobre como trabalhar pedagogicamente. Os comentários do coordenador geralmente se limitam a comportamentos extremos de disciplina e o "nível de dificuldade" das provas.

Em conversas nas salas dos professores, eu nunca vi professores comentando sobre métodos de aulas e outras práticas para o cotidiano. Conversar sobre trabalho parece um tabu. Além de estar abandonado pela instituição, o professor não tem apoio profissional de seus colegas.

Hoje, então, o professor é um lobo solitário.

Acredito que isso aconteça como consequência do modelo tradicional de ensino. Nessa abordagem o professor é um deus dentro da sala de aula, é o detentor de todo o conhecimento, acima de qualquer questionamento. Por causa disso, ninguém, nem mesmo o coordenador do curso, quem dirá os colegas, pode comentar sobre seu método com os alunos. Para mim, isso tem muito jogo de ego e é um método ultrapassado.

Um dos efeitos dessa abordagem foi o que comentei: não existe equipe de professores, cada um trabalha individualmente, apesar de todos trabalharem juntos. Isso é ridículo e só acontece no campo educacional. Em qual outra área as pessoas trabalham assim? (não conta aquelas em que os colegas são competidores, como no caso de vendedores).

Vantagens são a total liberdade dos professores. Eu, por exemplo, não fui questionado em nenhum momento sobre o que eu iria passar em aula, desde que cumprisse a ementa até o fim do semestre. Outra vantagem é a eficiência, uma vez que o professor não precisa comunicar com ninguém o que deve fazer, ele simplesmente vai e faz. Preciso pensar em outras vantagens do que fazemos hoje em dia. Vocês têm alguma proposta?

O problema é que como sou contra, fica difícil pensar em (mais) pontos positivos. As desvantagens que enxergo são várias. O professor, apesar de livre, fica isolado, sem referências e informações para trabalhar. Os alunos não enxergam relação entre as disciplinas, não percebem coesão no curso. Os professores, por não conversarem entre si, nunca analisam seu próprio trabalho e não pensam em novas formas de melhorar, não prestam atenção em seus erros e ficam cada vez mais arrogantes.

==

Cabeça Dura?

Comecei a conversar sobre problemas no curso que os alunos vêm reclamando comigo com um professor mais experiente. Tentei propor a ele um grupo de trabalho de professores para tentar consertar os problemas principais do curso para reduzir as desistências. Com o avanço da conversa, outros professores ouviram e começaram a participar também. Aparentemente todos têm vontade de participar mais desse tipo de conversa, mas como não há espaço formal para fazer isso, eles não fazem. Aliás, o estereótipo de professor é aquele que tem opinião para tudo e está sempre certo (olhem aí o método tradicional novamente).

"Meu aluno é pior que o seu!!" "Não, o meu é pior!"

Acontece que a conversa saiu do assunto principal e tomou proporções mais gerais e menos estruturadas. Os professores começaram a reclamar dos alunos, que chegam pouco preparados, sem vontade e costume de estudar. Falaram que "só batendo que eles aprendem", que "temos que ser rígidos". Enquanto outros tinham um discurso de "se apertarmos demais eles espanam". Eu fiquei confuso e triste no meio de tanto discurso pronto e vazio dos professores. Nenhum estava disposto a ouvir o que o outro falava.

Essa é uma das principais lutas que coloquei para mim: tentar mudar o jeito dos professores pensarem e re-pensarem suas aulas e métodos. Vai ser uma briga longa...

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

4a Aula - Replanejamento

No último artigo comentei que na aula em questão havia dado aos alunos uma atividade de desenvolvimento razoavelmente complexa. E por isso os alunos se sentiram tão perdidos que nem conseguiam formular suas dúvidas. Meu desafio para a aula seguinte era então ajudá-los a organizar suas mentes e conseguir avançar na atividade.

Eu já tinha começado a pensar no replanejamento das aulas em função do que aconteceu. Coloquei aqui no blog minhas angústias e pelas conversas que tive e os comentários que recebi consegui reorganizar a aula seguinte. Acho que essa é a principal lição disso tudo: temos que avaliar constantemente nossa abordagem para saber sua efetividade. Se estiver baixa, precisamos replanejar!

Se uma jogada não deu certo, reveja seus planos!

Meu diagnóstico da última aula foi: os alunos ainda não estão acostumados a associar os conhecimentos de uma linguagem de programação para outra rapidamente, eles se assustam com a sintaxe da nova linguagem e não conseguem nem pensar no algoritmo para resolver uma solução. Assim, eu tinha dois pontos para atacar: (1) ajudar os alunos a organizarem a solução do problema elaborando um algoritmo independente da sintaxe da nova linguagem e (2) ajudá-los passo a passo a se acostumar com essa sintaxe.

Esse último parágrafo ficou muito específico para quem é da área de computação. Vou tentar reescrever de maneira mais genérica. Reconheci duas dificuldades nos alunos na última aula, (1) em organizar o pensamento no novo contexto, e (2) aplicar novos conhecimentos. Acredito que isso tenha sido pela falta de suporte vindo do professor, eu "errei a mão" e fui rápido demais para eles. Foram nesses dois pontos que agi.

Assim, a nova aula começou com uma discussão sobre os resultados da aula seguinte, para eles se expressarem e eu me explicar. Expliquei porque fiz o que fiz e minhas intenções. Disse que nas próximas aulas eu os ajudaria mais mas continuaria com meus valores. Assim, dei a eles atividades que começavam bem simples e ficavam mais complexas. Depois das atividades eu voltei a afirmar que ao longo da disciplina minha ajuda se voltará mais a buscar soluções em vez de entregá-las "mastigadas".

Planejei a aula para retomar a atividade da aula que não deu certo após o intervalo. Isso também não deu certo. Os alunos começaram a fazer as atividades menores e foram passando às demais em um ritmo mais lento do que previ, o que tomou o período após o intervalo também. Por mim tudo bem, pois acompanhei eles bem de perto e vi que o desafio estava em um nível motivador.

O próximo passo é tentar contextualizar melhor as atividades e manter o nível de desafio adequado aos alunos. Eu comentei com eles que era provável que atividades mais simples poderiam faltar contexto, e um deles me respondeu "Professor, faça com que as atividades mais simples sejam parte de uma maior, com um contexto bom".


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

3a Aula - Dúvidas

Continuando a série de artigos sobre as aulas que ministro na Fatec, essa é a aula que planejei para os alunos colocarem a mão na massa finalmente! Planejei tudo bonitinho com relação à ementa da disciplina, previ que os alunos ficariam super felizes de finalmente poderem criar scripts similares àqueles que viram na aula anterior. Um problema, porém, eu não previ direito: as dúvidas.

Hahaha! As imagens sobre dúvidas são hilárias!

Antes de deixá-los enfrentar a tela em branco para começar a programar, eu dei a eles os scripts que leram na aula passada, mas com várias explicações a mais. Assim eles conseguiriam tirar as dúvidas que tinham ainda sobre alguns detalhes do código. Isso cumpriria a parte de "conhecer" e "entender". Vamos agora para o "aplicar".

Então dei para eles um enunciado que definia o comportamento de um script razoavelmente simples. Esse script usaria apenas estruturas básicas da linguagem, todas existentes nos scripts que leram. Por isso achei que eles iriam terminar a atividade super rápido. Eis que algum tempo depois vou conversar com eles e todos estão com uma cara de interrogação olhando para o enunciado e para a tela em branco: "Professor não sei nem por onde começar..."

Eu me senti bem triste, pois tinha planejado para eles conseguirem fazer a atividade que passei. Eles falaram, e os outros professores também, que já tinham experiência em programação, até demais para um curso de redes. Mas essa experiência não foi suficiente para eles compreenderem e resolverem o problema que passei. Eu perguntei muitas vezes: "Qual é a sua dúvida?", a resposta geralmente era: "Todas".

O que fazer nesse momento? Como um professor deve se comportar na situação em que todos os alunos têm tantas dúvidas que não conseguem avançar? Bom, a primeira coisa que eu fiz foi ter certeza de que meu planejamento deveria ser revisto, e que as próximas atividades que eu passar para os alunos não deveriam seguir o mesmo modelo dessa que passei. A condução da disciplina deve considerar (idealmente em tempo real) a forma com que os alunos respondem às atividades.

Bom, mas e na hora? Eu não sei bem. Primeiramente eu tentei forçá-los a usar os scripts que tinha passado e buscar na Web como resolver os problemas que estavam enfrentando. Mas eles estavam bem perdidos, e isso não ajudava muito. Eu tive que intervir, tentei fazer pessoalmente de forma a dar a dica específica para cada um. Isso ajudou, mas os alunos não ficaram muito felizes: "Poxa professor, nós precisamos de uma base antes".

Depois eu tentei fazer uma discussão com eles, falei que minha abordagem é diferente da dos demais professores, que passam a teoria toda (de mão beijada) para os alunos e depois passa exercícios para eles aplicarem exatamente aquilo que aprenderam. Eu gostaria de fazê-los aprender diretamente na prática, quebrarem a cabeça e explorarem o conteúdo apenas orientados por mim. Aparentemente isso não deu certo, pelo menos nessa aula.

Acho que isso deve ter acontecido porque eu errei a mão, fiz um exercício muito complexo. Talvez se eu tivesse começado por um (ou vários) mais simples teria sido melhor. Mas acho que outro fator também contribuiu. Os alunos estão acostumados a não investigarem sozinhos o conteúdo, não estão acostumados a serem emancipados. Eu quero desenvolver isso neles! A questão agora é: como fazer isso sem deixá-los frustrados?

Vamos ver se na próxima aula eu já tenho a resposta.

==

O que acharam? Fui muito maluco? Como eu posso arrumar um meio termo entre o que eles estão acostumados e o que eu gostaria de desenvolver neles? Estou aberto a sugestões!!

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

2a Aula - Desafio

Na segunda aula meu objetivo era colocar os alunos em contato com o conteúdo específico da disciplina de forma que eles tenham uma ideia do que estudarão ao longo do semestre. Minhas expectativas eram que os alunos, ao saber o que veriam no futuro, se interessassem e se motivassem a estudar mais.

Mas apenas mostrar aos alunos o que eles verão na disciplina não é suficiente para motivá-los. Aliás, geralmente ninguém presta atenção e a disciplina começa na verdade a partir da aula seguinte. Então eu precisava fazer diferente, precisava chamar a atenção dos alunos para o conteúdo da disciplina, eu precisava de desafiá-los!
Você aceita o desafio?

Desafiar os alunos logo na segunda aula foi um método que encontrei para tornar o conteúdo da disciplina interessante e motivador. Antes de explicar o que eu fiz exatamente, vou sintetizar sobre o que é a disciplina que estou trabalhando. O conteúdo trata de programas de computador em formato de texto (mais especificamente scripts, a linguagem chama ShellScript) com o objetivo de resolver problemas relacionados a redes de computadores.

Fiz o seguinte, separei uns scripts razoavelmente difíceis de entender, o que normalmente o aluno só veria no final da disciplina, e dei para os alunos lerem, compreenderem e me explicarem em linhas gerais o que eles faziam. Dividi a turma em grupos, limitei o tempo de análise de cada script em 15 minutos, e também limitei as perguntas que eles poderiam me fazer a uma por script.

Trabalhando em grupo os alunos podem discutir hipóteses e avançar mais rapidamente na análise do material desconhecido. Limitar o tempo de leitura dos scripts faz com que o aluno trabalhe sob pressão e se concentre melhor. Limitar as perguntas ao professor força o aluno a se virar mais e a trabalhar com buscas na Web como fonte primária de informação.

Como pedi para os alunos me explicarem em linhas gerais o que cada script faz, eles não precisavam se preocupar com detalhes da linguagem (e expliquei que era isso que eles iriam aprender ao longo do semestre), e os alunos em geral conseguiram cumprir a missão. Isso me surpreendeu e me fez acreditar que meus alunos são muito bons.

Foi muito engraçado. Em um momento estavam eles todos conversando e agitados enquanto eu explicava como seria a dinâmica da atividade. Depois que eu falei "comecem, o tempo está rolando", a sala de repente ficou em um silêncio mortal, com todos os alunos lendo atentamente os scripts. Isso mostrou que os alunos estão interessados e que a atividade foi um sucesso.

Uma coisa que não deu muito certo foi a contextualização que eu quis fazer. Tentei simular uma situação em que os alunos fossem recém contratados em uma empresa e que os scripts tinham sido escritos por um funcionário que já não trabalha mais lá. Falei de um problema que precisaria ser resolvido naquela hora e que talvez um script daqueles entregues ajudaria a resolver.

Alguns alunos tentaram focar em descobrir se o script que tinham em mãos era o que resolvia o problema. Isso foi interessante. Mas em geral esse objetivo ficou secundário frente ao de descobrir o que os scripts faziam. Além disso, nenhum dos scripts realmente ajudava a resolver o problema que eu apresentei a eles. Nas próximas atividades, prestarei atenção em não dar dois objetivos conflitantes aos alunos...

O que achou dessa aula que preparei? O que mais gostou? O que acha que poderia ser melhor? Você é professor e estaria disposto a usar essa técnica? Gostaria muito de ajudar e de ouvir a opinião de vocês!

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

1a Aula - Diagnóstico

Gostaria de compartilhar com vocês o que fiz na 1a aula do curso que estou responsável atualmente, que comentei em linhas gerais no último artigo. Nos próximos artigos vou tentar manter o relato do andamento do curso e algumas reflexões.

Como disse antes, acho que cada curso deve se adaptar às necessidades e interesses dos alunos. Então para a primeira aula eu preparei atividades focadas em tentar descobrir quem são os alunos, o que eles gostam, o que eles querem, o que eles já viram no curso, entre outras informações. Essa então foi a aula diagnóstica.

Você conhece seus alunos como um médico conhece seus pacientes?

Uma analogia interessante com a profissão de médico é a seguinte. Você vai no médico para pedir um tratamento. O médico te recebe, não ouve o que você tem, e ainda diz: veja, tome esse remédio aqui. Então você diz, mas doutor, eu nem falei o que estou sentindo. Ele responde, não precisa, hoje é terça feira e são 10h da manhã, então o remédio que dou é esse aqui. Isso é o que acontece muitas vezes na relação professor e aluno.

Para evitar isso, nessa aula, eu preparei duas atividades: uma para entender os alunos de maneira geral e outra para entender o quanto eles conhecem do conteúdo que abordarei na disciplina. Para isso, preparei dois formulários no google drive e separei um tempo na aula para discussão das perguntas e respostas que eles escreveram. A ideia era gastar todos os 100 minutos da aula com: 1) apresentação do professor, 2) preenchimento do 1o formulário, 3) discussão, 4) preenchimento do 2o formulário e 5) discussão.

O primeiro formulário, de caráter mais geral, foi longo demais na minha opinião, com 21 questões. Só percebi isso quando os alunos mostraram estar cansados de responder perguntas. Veja abaixo a lista de perguntas que fiz:

  1. Você terminou o ensino médio há quanto tempo?
  2. Já fez outros cursos técnicos/profissionais/superiores? Quais?
  3. Você trabalha atualmente? Qual é sua função no emprego?
  4. Já trabalhou em outro lugar com redes ou TI? Como era?
  5. Quais são suas expectativas para o restante do curso de tecnologia em redes?
  6. Qual é o papel que esse curso tem em seu projeto pessoal/profissional?
  7. Em que deseja trabalhar ou estudar depois que se formar?
  8. O que você menos gosta no curso de tecnologia em redes? Por quê?
  9. O que você mais gosta? Por quê?
  10. Quais habilidades ou competências você mais valoriza para um profissional? Por quê?
  11. Quais habilidades você mais valoriza para a vida? por quê?
  12. Quais habilidades você acredita estar desenvolvendo mais nesse curso? Por quê?
  13. Quais habilidades mais gostaria de desenvolver? Por quê?
  14. Como você acha que poderia desenvolver essas habilidades?
  15. Qual foi a melhor disciplina que já fez do curso? Por quê?
  16. Qual a pior disciplina que já fez do curso? Por quê?
  17. Como você acha que as disciplinas que está cursando agora podem te ajudar na vida profissional?
  18. Quais são suas expectativas para esta disciplina?
  19. Como você gostaria de estudar nesta disciplina?
  20. Prefere fazer trabalhos ou provas? 
  21. Prefere vários projetos pequenos ou um grande? Por quê? 

Ainda acho que preciso melhorar bastante em como preparar essa aula-diagnóstico. Eu tentei abordar todos os temas possíveis, desde o histórico pessoal dos alunos até o que eles desejam aprender e como preferem estudar. Você acha essa lista longa demais? Que perguntas acha mais interessantes? E quais são desnecessárias?

Enfrentei problemas práticos para aplicar o formulário. Por exemplo, em uma turma a conexão com a Internet estava muito ruim, o que dificultou o acesso ao formulário. Então combinamos que os alunos preencheriam o formulário em outro horário e ali pelo menos cada um se apresentaria, com um histórico profissional e depois falaria sobre como enxerga o curso e o que espera da disciplina. Nesse ponto os alunos se apresentaram, falaram bem sobre o que trabalhavam e trabalham atualmente e passaram a relatar os problemas que enfrentam no curso.

Em geral, reclamaram que veem poucos assuntos relacionados a redes e muita coisa de programação. Com relação às expectativas da disciplina eles não tinham muita, porque não sabiam ainda sobre o que seria. Nessa hora falei o que pretendia e como prometi passar exemplos sempre de problemas relacionados a redes, eles ficaram satisfeitos.

Para a segunda etapa usei bem menos tempo do que a primeira, pois tinha menos informação e como os alunos já tinham respondido parte das perguntas, foi tranquilo. Fiquei contente que os alunos têm conhecimentos bons das disciplinas relacionadas mas não muito do que iremos ver diretamente. Ah, vejam a lista das perguntas que fiz no segundo formulário:

  1. A disciplina será sobre programação de scripts para problemas de redes. Era isso que esperava ver na disciplina? Se não, o que era?
  2. Você conhece alguma coisa de Shellscript, Bash, Pearl ou VBS?
  3. Você trabalha ou já trabalhou com algo relacionado a isso? Como?
  4. Você tem contato com alguém que trabalha ou trabalhou com isso? Como essa pessoa trabalha(va)?
  5. Como você acha que é (ou deve ser) trabalhar com esse assunto? Por quê?
  6. Qual é a importância desse conteúdo para você profissionalmente?
  7. Você tem algum interesse específico nesse tema?

Acredito que no final a aula foi muito boa, pois consegui cumprir o objetivo que era conhecer os alunos e espero que os alunos tenham me conhecido e entendido a minha abordagem.

Gostaria muito de ouvir a opinião de vocês, principalmente com sugestões de como melhorar.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Valores ao Planejar uma Disciplina

Alguns artigos atrás comentei que seria professor de uma disciplina chamada Programação Orientada a Objetos para o 2o semestre de 2013 em uma faculdade particular. Fiz um artigo sobre como iniciei o planejamento da disciplina, acesse ele aqui. Infelizmente, ou felizmente, a contratação não foi efetivada e parei de trabalhar na preparação dessa disciplina.

Mais recentemente, fui contratado para lecionar a disciplina "Linguagem de Programação para Ambientes de Redes II" na Fatec. Fiquei muito feliz com a oportunidade, e feliz também por não ter sido contratado pela faculdade particular, pois prefiro trabalhar para instituições que não visam lucro (apesar dos vários problemas que o governo possui). Esse é um dos motivos que me afastaram das publicações semanais deste Blog.

 Agora serei professor do curso de redes - desbravando novas áreas

Para retomar o ritmo das publicações, vou fazer um simples relato dos meus valores ao planejar essa nova disciplina.
  1. A disciplina não pode ignorar o curso em que está inserida. Cursos diferentes têm alunos com interesses diferentes.
  2. A disciplina deve estar integrada com as outras do mesmo semestre. Professores devem sincronizar os conteúdos abordados.
  3. A disciplina deve mesclar os interesses dos alunos com os definidos no currículo. O professor deve ser o mediador dos conflitos.
  4. A disciplina deve ter objetivos explícitos. As provas/avaliações devem ser preparadas para cobrir os objetivos pedagógicos, e não apenas os conteúdos.
Abaixo explico cada um deles:

A disciplina não pode ignorar o curso em que está inserida. Cursos diferentes têm alunos com interesses diferentes.

A ementa que recebi para a disciplina que serei responsável trata de programação de scripts para terminais Linux, isso reflete nos livros da bibliografia obrigatória: programação em shell, manual de shell, etc. Assim, eu poderia simplesmente seguir o livro-texto sugerido pelo currículo e passar aos alunos conteúdos de shellscript.

Porém, como a disciplina é do curso de Tecnologia em Redes, os alunos não se interessam por programação sem contexto (como é o caso dos livros de shellscript). Isso seria adaptado para alunos que gostam de programar em geral. Assim, decidi que a disciplina vai ser mais voltada à criação de scripts que usam comandos e resolvem problemas de administração e redes.

Com muita sorte, encontrei um livro chamado Automação de Administração Linux. Esse livro assume que você já sabe programar em shellscript e aplica esses conhecimentos para problemas específicos que provavelmente vão interessar os alunos do curso de redes. Então, defini que meu papel como professor vai ser de ponte entre os conhecimentos básicos de shellscript e sua aplicação em problemas interessantes.

Acho ruim eu precisar dessa iniciativa para fazer um trabalho interessante para os alunos. O próprio currículo deveria dar uma base e auxiliar o professor a motivar os alunos. Mas esse é papo para outro artigo.

A disciplina deve estar integrada com as outras do mesmo semestre. Professores devem sincronizar os conteúdos abordados.

Para planejar a disciplina, estou tentando conversar bastante com professores de outras disciplinas que os alunos têm concomitantemente. Selecionei as disciplinas de Sistemas Operacionais para Redes e Administração de Redes. Assim, estou conversando com os professores delas para tentar organizar a minha disciplina de forma sincronizada com a deles.

Por exemplo, minha disciplina trata de scripts para automação de soluções de problemas de administração de redes. Então, é muito interessante eu abordar um tema/situação/problema/comando que foi recentemente visto na disciplina de Administração de Redes, mas com a adição de incluir scripts na jogada. Da mesma maneira, problemas e procedimentos da disciplina de Sistemas Operacionais podem ser resolvidos e automatizados usando scripts na minha disciplina, uma ou duas semanas depois de terem sido tratados pela primeira vez.

Em vários momentos da minha formação consegui enxergar problemas graves nos conteúdos das disciplinas pelo simples fato dos professores não conversarem entre si para sincronizar o conteúdo. É uma tarefa simples que pode trazer muitos benefícios aos alunos.

A disciplina deve mesclar os interesses dos alunos com os definidos no currículo. O professor deve ser o mediador dos conflitos.

Ainda que eu prepare o curso entendendo o contexto em que ele está (o curso, a faculdade, etc.), cada aluno possui seus interesses particulares. Assim, o professor deve considerar os interesses dos alunos individualmente, em conjunto com aqueles gerais para o curso, e relacioná-los com os objetivos explicitados pelo currículo.

Na prática é o seguinte. Mesmo que o professor trate de assuntos de rede em uma disciplina de programação, os alunos podem se sentir frustrados porque têm interesses em problemas específicos de redes, não tratados pelo professor. Segurança por exemplo. Se os alunos estiverem mais interessados em segurança e o professor passar só problemas sobre processamento em rede, apesar de contextualizados eles não interessarão os alunos.

Por isso, o programa do curso que preparei não contém explicitamente os conteúdos que serão abordados em cada aula. Eu vou preenchê-los gradualmente com o avanço da disciplina. Quero perceber ao longo das aulas como os alunos evoluem e como seus interesses se manifestam. Assim, nas aulas subsequentes eu prepararei conteúdos mais motivadores para eles. Tudo isso deve ter em mente também a ementa da disciplina.

Além disso, a primeira aula é separada exclusivamente para conhecer os alunos. Nela eu vou perguntar a eles o que gostam, o que querem fazer, em que querem trabalhar, etc. Isso vai me ajudar a preparar um programa para a disciplina que seja a intersecção entre os objetivos deles e a ementa.

A disciplina deve ter objetivos explícitos. As provas/avaliações devem ser preparadas para cobrir os objetivos pedagógicos, e não apenas os conteúdos.

Uma das minhas maiores lutas como professor é não cair no tradicional e ubíquo foco no conteúdo que as instituições, professores e alunos têm quando falam de ensino e educação. Em quase todo lugar e com quase todos que converso, currículos são preparados organizando exclusivamente conteúdos, aulas são preparadas em função apenas do conteúdo, alunos não conseguem entender nenhuma habilidade/atitude além daquilo que é abordado pelo conteúdo.

Defendo que em vez de conteúdo, o foco do ensino e da educação devem ser os objetivos pedagógicos. Os objetivos devem contemplar o conteúdo, mas não se limitar a ele. Educação é um processo muito complexo que envolve diversos fatores além dos conteúdos. Focar apenas em conteúdo é limitar a atuação do professor, prejudicando sua influência e a qualidade de seu trabalho.

No meu caso tenho como objetivos desenvolver o trabalho em equipe dos alunos, a capacidade de procurar e encontrar soluções de problemas difíceis pela Internet, a iniciativa de resolver problemas, a capacidade de reconhecer oportunidades de automação de processos e a responsabilidade com a qualidade do código do script produzido. Assim, em minhas avaliações, incluirei perguntas específicas para cada um desses objetivos, além daquelas que contemplam o conteúdo cru.

Isso é muito difícil. Eu estou praticando agora nessa disciplina mas tenho dificuldades. Espero que com o tempo isso se torne mais fácil. Você já tentou fazer isso? Foi fácil? Compartilhe aqui sua experiência em considerar objetivos além dos conteúdos.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O que é importante para você?

Alguns dias atrás, fui a um evento organizado pelo Insper sobre ensino de engenharia. Essa instituição tem um interesse muito grande no assunto porque vai abrir em 2015 alguns cursos de engenharia. E, de maneira similar que a FGV fez com seu curso de direito, quer começar com o pé direito e se comparando às melhores escolas, particulares ou públicas.

Para mim essa é uma investida muito interessante. O ensino de engenharia, na minha opinião, vive um marasmo, meio esquecido e abandonado pelas iniciativas de inovação e investimento. Eu já escrevi sobre algumas frentes de trabalho em outros artigos. Essa pode ser uma reviravolta. E mais, a proposta do curso é ser uma alternativa moderna e de ponta, com métodos diferentes daqueles usados nas instituições tradicionais.

Nesse contexto, a grande referência é o Olin College. Uma escola de engenharia com cerca de 10 anos de existência que recebe cerca de 50 ou 70 alunos por ano que possui uma abordagem bem diferente. Eu quero falar especificamente do que o diretor da instituição, Richard Miller apresentou no evento.

Abordagem de Olin foca em problemas práticos e empreendedorismo.

O prof. Miller apresentou basicamente como funciona o ensino em Olin, como o curso é estruturado, como os alunos e professores trabalham, etc. Mas, acima de tudo, e isso me impressionou bastante, apresentou e insistiu nos valores da instituição. O que é importante para a instituição e o que eles fazem para atender essas considerações.

Isso é uma coisa que gosto de defender e que vejo muito pouco na engenharia. Nós engenheiros trabalhamos muito e fazemos muitas coisas! Construímos estruturas impressionantes. Porém, não paramos para pensar e refletir bem sobre "o que é importante?", "por que eu faço o que eu faço?", "o que eu valorizo?". Você já parou para pensar nisso?

Depois eu faço um artigo sobre o que é importante para mim. Esse é um exercício que recomendo a todos, principalmente a nós exatóides insensíveis... hehe

Voltando. A instituição Olin College tem de forma explícita e muito bem definida quais são seus valores, o que é importante para ela. Ela acredita que o engenheiro deve ser mais humano, aprender na prática, saber liderar, empreender, entender as necessidades e complexidades das pessoas, ser feliz com o que e com a forma de estudar.

Uma das representações das ideias por trás do curso de Olin

Além de definir e apresentar a todos seus valores, essa escola avalia se suas ações atendem os princípios de forma recorrente. Isso é usado para evoluir a prática cotidiana dos professores, funcionários e alunos continuamente.

Você conhece alguma escola de engenharia que implementa tal processo? Eu quero estar enganado, mas acho que não existe nenhuma aqui. Por favor, se alguém conhecer algum processo similar, me avise.

Por fim, minha luta é para que mais escolas tenham consciência da importância dos valores. Se os dirigentes e professores de um curso tiverem explícito aquilo que é importante para a instituição e trabalharem para cumprí-lo, tudo seria muito diferente!

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Quem sabe faz, quem não sabe ensina.

A frase do título deste artigo é um mote que muitas pessoas usam para desmerecer a carreira docente. Particularmente nas áreas técnicas, como a engenharia. Ela, porém, contém vários valores e preconceitos que não compartilho, por isso gostaria de escrever um pouco sobre isso.

Rita Lee estaria certa?


No meu caso, estou atualmente preocupado com isso. Me vejo como alguém que deseja seguir a carreira docente, mas se vê pressionado por escolher uma área de especialização. Eu mesmo me pressiono, dizendo: sei um pouco de tudo e acabo não sabendo nada. Esse é outro motivo para escrever sobre isso, colocar as ideias no papel organizando-as de forma a me convencer de que estou no caminho certo. Ou entrar no caminho certo, caso perceba que esteja indo para o lado errado.

Quem sabe faz, quem não sabe ensina. Isso quer dizer que especialistas trabalham fora da carreira docente, e que docentes não são especialistas. Minhas experiências nas universidades que estudei contradiz essa frase em todos os pontos. Meus professores eram os maiores especialistas do Brasil em suas respectivas áreas, e me davam aulas.

Suponhamos que essa não é a realidade de todas as instituições e de todos os professores. Assim, se a frase tiver o mínimo de veracidade, boa parte dos especialistas não são professores, e aqueles que o são têm pouco conhecimento em comparação com os especialistas. Escrevendo dessa maneira a injustiça que a frase proclama fica evidente. Estamos cobrando que duas pessoas (ou dois grupos de profissionais) tenham o mesmo 'nível' de conhecimento exercendo funções diferentes: um aplica diretamente o conhecimento em suas atividades profissionais, enquanto que o outro o utiliza indiretamente para ensinar.

Ou seja, o professor precisa saber, além do que o especialista, ensinar. A comparação é injusta. Além disso, desconsidera o profissionalismo da carreira docente. O professor profissional em ensino é aquele que possui formação, interesse e responsabilidade com a aprendizagem de seus alunos. Isso contradiz outra frase preconceituosa a professores, a que diz "Qualquer um pode ser professor, basta saber o conteúdo". Toda pessoa que já se aventurou de verdade em ser professor, mesmo que por um período curto, ou percebeu que ser professor exige certos conhecimentos e talentos que nem todos possuem, ou não entendeu o que fazia.


É claro que o professor não pode ensinar aquilo que não sabe. Ele precisa de um 'nível' de conhecimento o suficiente para os objetivos pedagógicos do curso/disciplina. Nos dias de hoje, principalmente em faculdades particulares, acontece frequentemente que pessoas com preparo em algumas áreas serem responsáveis por aulas em outras, por falta de profissionais contratados. Precisamos cobrar dos professores tanto um preparo na área (não necessariamente no mesmo nível de um especialista) quanto um preparo em docência.

Assim, ser professor em si já é uma profissão. Isso faz com que o professor, ao buscar o conhecimento no nível do especialista, tem duas profissões. Apesar de tudo, o professor continua sem reconhecimento, com salários baixos e muitas responsabilidades...

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Muitas ferramentas para resolver nenhum problema

Pegue uma disciplina da engenharia básica, por exemplo: Circuitos Elétricos. Eu fui analisar a ementa em três universidades daqui de São Paulo:

Unicamp
Elementos e Leis de Circuito. Equipamentos e soluções de circuitos por métodos algébricos e matriciais. Equacionamento de circuitos dinâmicos. Circuitos monofásicos

Unesp
Circuitos elétricos em regime permanente; Bipolos; Leis de Kirchhoff; Associação de Bipolos; Fontes de Tensão e Corrente; Circuitos de corrente contínua; Introdução à Análise Geral das Redes; Técnicas de Simplificação; Teoremas; Métodos Clássicos para Resolução de Circuitos; Circuitos de corrente alternada – excitação senoidal; Valor Eficaz; Fasores; Conceito de Impedância e admitância; Potência complexa e Fator de Potência; Diagramas Fasoriais

Usp
Conceitos básicos e bipolos elementares. Associação de bipolos e leis de Kirchhoff. Leis de Kirchhoff fasoriais. Análise nodal de redes resistivas. Técnicas de simplificação e Teoremas gerais de redes lineares : superposição, Thévenin e Norton. Redes de 1a e 2a ordem. Equações diferenciais lineares. Potência e energia em regime permanente senoidal. Redes trifásicas.

O que é feito em cada uma das ofertas dessas disciplinas? De acordo com o programa no link da Usp, em cada aula o professor apresenta um conceito ou sub-conceito contido na ementa. Isso muito provavelmente é feito também nas outras universidades.

Aulas super instrutivas sobre ferramentas matemáticas para circuitos...

No final, disciplinas como essa servem para dar aos alunos um conjunto gigante de ferramentas. Porém, essas ferramentas não servem para resolver nenhum problema, porque os alunos não são colocados em situações problemáticas. O máximo que eles têm é um exercício abstrato sem contextualização em que sabe que precisa aplicar uma das ferramentas recentemente "aprendidas".

Em disciplinas assim, os alunos aprendem a ignorar que precisam estar motivados para aprender os assuntos, ou pelo menos esquecer que aquilo que aprendem é significativo para suas vidas. Quando o professor apresenta um conceito, ele pode até dar um ou outro exemplo, que dificilmente o aluno consegue se apropriar. Ou então quando o aluno pergunta "professor, para que serve isso?", o mestre responde "ah, isso é muito útil, serve para !%$#%* &#()(*!# e (*&!# )!*#&" (não são palavrões, são palavras que não significam muita coisa nesse estágio do curso. O aluno pode até achar que entende, mas ele só vai entender de verdade se um dia for trabalhar em uma empresa e precisar aplicar aquele conceito.

Eu acho que isso não está certo.

Poxa vida, com tanto componente elétrico e eletrônico baratinho por aí, por que as universidades não reformulam as disciplinas de circuitos elétricos para serem totalmente em laboratórios? Por que não usam problemas do dia a dia para os alunos terem os problemas para poderem usar as ferramentas? Para que continuar desenhando fasores na lousa sendo que um computador pode mostrar o conceito muito melhor?

Seria tão legal aprender circuitos assim...

Sei que os cursos têm disciplinas de laboratório, mas geralmente são em semestres posteriores à disciplina teórica. Em caso de serem simultâneos (o que eu acho bem melhor), é bem possível que as ferramentas expostas nas aulas não tenham relação com os experimentos propostos...

--

Estou pensando em fazer uma proposta de currículo para um curso de engenharia (talvez começar com um curso técnico) baseado o máximo possível em problemas práticos. A equivalência com currículos tradicionais como esses que citei aqui seria feita com a lista de conceitos/ferramentas das ementas de todas as disciplinas mapeada com o que é necessário para resolver os problemas práticos. O que você acha dessa iniciativa? Quer me ajudar?

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Errou um sinal, a ponte caiu

A frase do título pode não fazer muito sentido para as pessoas em geral, mas gera arrepios nos alunos (ou ex-alunos) de engenharia. Para quem não conhece, vou fazer uma ilustração.

Imagine que você é um engenheiro civil experiente, responsável técnico de uma empreiteira contratada pela prefeitura de uma cidade para construir uma ponte. Você e sua equipe passam meses realizando cálculos e planejando a execução do processo de construção.

Durante o início das obras tudo ocorre bem, de acordo com o plano e as melhores práticas da engenharia aplicada por você. Acontece que, por um momento, você testemunha uma cena trágica: para colocar uma viga na posição prevista, o guindaste solta o produto de aço de algumas toneladas sobre as pilastras, que começam a ruir. Tudo desmorona a seus olhos.

Ainda bem que isso aconteceu antes das pessoas utilizarem a ponte, ninguém se feriu. Mas por que isso aconteceu? Você fez tudo correto, de acordo com o que estava no livro. Então eis que surge um analista e diz que o estagiário fez uma conta errada, trocou um sinal, e a partir daí todos os outros cálculos estavam errados... a ponte caiu.

Poderia uma ponte cair por causa de uma distração simples?

Essa é a história que os professores sempre contam. No meu caso foi na disciplina de Resistência dos Materiais. Mas não é apenas nessa disciplina (e no curso de eng. civil), onde o exemplo é literal, que a analogia funciona. Essa afirmação é usada como justificativa pelos professores mais tradicionalistas para corrigir "binariamente" (ou acertou completamente, ou errou completamente) os exercícios das provas dos pobres coitados dos alunos.

Assim surgem casos de provas em que o aluno fez duas folhas de almaço de contas e contas, mas por pequenos enganos errou todas as respostas finais. Corrigindo rígida e binariamente, o professor confere apenas as respostas finais, ignorando todo o raciocínio do aluno, e lhe dá nota 0.

É claro que são raros os casos de professores que cumprem esse roteiro à risca. No meu caso, que fiz engenharia entre os anos 2004 e 2009, a maior parte dos professores tinha um pouco disso. Aqueles que eram encarnações do estereótipo eram as lendas da faculdade...

--

Eu vou agora fazer alguns comentários sobre essa prática. Considerar que o aluno deve seguir o procedimento de forma precisa sem nenhum erro, mostra que o professor...
  • quer que os alunos sejam engenheiros-máquina, cuja função principal seja realizar rotinas de cálculo e projeto de forma minuciosa, como um computador.
  • considera que seu papel é o de treinador dos alunos, que devem aprender a realizar um procedimento se segui-lo sempre que necessário (e nada mais importa).
  • não se importa com o aprendizado "parcial" dos alunos, se importa apenas com o aprendizado sistemático do procedimento e com a obtenção do resultado final esperado. O aprendizado parcial de um procedimento poderia ser considerado, permitindo que o aluno revisasse seus resultados. E não é só o aprendizado de procedimentos que faz um engenheiro...
  • ignora o fato da informática ser hoje em dia um grande aliado dos engenheiros (e da população em geral), realizando os procedimentos exaustivos de maneira muito mais sistemática que as pessoas. Na verdade, o professor pode até pensar nisso, mas considera que mesmo assim os alunos devem saber executar os procedimentos tão bem quanto se não houvesse computadores.
  • desconsidera que o tempo de uma prova não é o mesmo tempo de um projeto. Em um projeto os cálculos e resultados podem ser revisados diversas vezes, e mesmo um engenheiro muito capaz pode se distrair e errar uma conta. Além disso, para mim, errar uma conta não quer dizer
    que o engenheiro é ruim, mas errar a interpretação de um resultado sim.
Conseguem pensar em algo mais?

--

Vamos tentar entender o que pode passar na cabeça dos professores ao fazer isso. Um engenheiro deve realizar todos os procedimentos de cálculo/projeto de forma tão sistemática e precisa que não pode errar nada. Se o aluno de engenharia comete qualquer erro no processo, ele é avaliado como se não soubesse nada.

Será que é isso mesmo? Eu gostaria muito de saber a opinião de vocês. Alguém aqui é professor e faz algo parecido? Poderia justificar?

Um dia um amigo meu me falou o discurso de um professor que realiza essa prática ainda hoje na faculdade. E eu achei bem interessante até.

Eu faço isso com vocês deliberadamente. E mais, eu sei que essa prova que vocês fazem não avalia realmente se vocês sabem ou não a minha matéria (os procedimentos relacionados a cálculo de estruturas). A minha prova avalia muito mais outras capacidades, mais indiretas, que são pelo meu ponto de vista essenciais para o engenheiro.

Uma prova difícil com procedimentos de cálculo longos e correção rígida avalia dos alunos de engenharia a concentração, a memória, a capacidade de ser sistemático e preciso, de trabalhar sob pressão, contra o tempo, de se virar sozinho e descobrir rapidamente como resolver corretamente um problema difícil, entre outras coisas. E é para isso que eu preparo vocês e porque o mercado de trabalho tanto valoriza vocês como profissionais.

Acho muito nobre esse discurso, de verdade. Esse é um professor que respeito e admiro, apesar de discordar dele em vários pontos. Para não me alongar muito vou explorar dois pontos:
  • Se você quer ensinar certas habilidades, pense na melhor maneira de fazê-lo. Por exemplo, se eu quero ensinar concentração, eu preciso pensar nas técnicas existentes para isso, e avaliar qual é a melhor que posso aplicar em minha disciplina. E eu tenho que mostrar isso para os alunos desde o começo, para que eles saibam que avaliarei isso, não cálculos e contas. Concordo que uma correção de prova rígida avalia concentração, mas não acredito que seja a melhor forma de fazê-lo.
  • Seja humano. O estilo de professores assim é muito próximo ao de militares, homens indisponíveis e antipáticos que não se importam com as outras pessoas. Simplesmente fazem o que devem fazer e pronto, a vida é dura. Para mim educação de qualidade não combina com esse tipo de postura. Alunos podem ser preparados de maneira muito melhor para o furioso mercado de trabalho se bem atendidos e bem orientados, não por serem calejados de levarem porrada.
E aí? Concorda comigo? Esse é um assunto bem complicado, e acho que está na alma do ensino de engenharia há bastante tempo.

De qualquer forma, se você concorda comigo, como podemos fazer para que isso deixe de existir em nossas faculdades? Tenho medo dos novos professores, doutores formados nos últimos 10-15 anos, tenham essa mesma mentalidade...

segunda-feira, 15 de julho de 2013

POO parte 1 - Começando a Planejar uma Disciplina

Estou planejando uma disciplina de Programação Orientada a Objetos (POO). Quero compartilhar aqui no blog esse processo e fazer algumas discussões.

Para quem não é da área de computação, Orientação a Objetos é um paradigma de programação, uma forma de organizar as ideias e o código de um software. Basicamente ela organiza tudo em objetos para construir programas, como tijolos para construir casas. Existem vários outros paradigmas de programação: estruturada, lógica, funcional, etc.

Objetos simulam bloquinhos de montar programas

Esse é o paradigma das linguagens de programação mais utilizadas, acredito que desde o final da década de 80. A primeira linguagem orientada a objetos é do final da década de 70. Os principais conceitos são objetos, classes, herança, métodos, polimorfismo, associação, etc. Como eu posso então preparar um curso para ensinar meus queridos alunos tudo isso?

Ah, muito simples! O melhor jeito é o mais direto: primeiro eu vou definir o que é orientação a objetos para os alunos, depois, em cada aula, vou apresentando os conceitos mais básicos e depois os mais complexos. Vou começar com classe e objeto. Depois vou falar de atributos e procedimentos, aí os alunos vão entender direito o que é uma classe. Depois de herança, e então de associação, que são as relações entre classes, e para entender isso eles precisam saber o que é uma classe. Por fim vou falar dos diferentes tipos de polimorfismo, pois para compreender isso bem precisam conhecer as relações entre classes. Pronto!

O que eu acabei de fazer? Eu planejei uma disciplina considerando EXCLUSIVAMENTE o conteúdo. Além disso, considerei o conteúdo HIERARQUICAMENTE. Veja por aí cursos e livros de orientação a objetos. Compare a organização e o método de apresentação do conteúdo com o que eu acabei de apresentar. Minha hipótese é que a maioria deles usa exatamente esse método que, em minha concepção, é ruim.

Por que isso é ruim? Eu enfatizei as duas palavras que vão embasar meu argumento. Primeiro, o método não considera os muitos outros fatores que influenciam os processos de ensinar e aprender: o currículo (objetivos para os alunos, para a disciplina, competências e habilidades...), o aluno (idade, formação passada, acesso a recursos, intenções, interesses, tempo disponível, capacidades...), o contexto (instituição, infraestrutura, comunidade...) para listar alguns. Uma analogia simples é projetar um veículo sem considerar alguns fatores como atrito ou desgaste. Essa é uma falha muito grave.

Um pouco menos grave, em segundo lugar, o conteúdo é organizado hierarquicamente. Ou seja, se baseia exclusivamente em pré-requisitos supostos que os alunos precisam "saber" para aprender cada item. Existem várias outras formas de organizar o conteúdo, seja em linha, seja em rede, seja todo de uma vez em uma aula, etc. Para escolher bem a forma de organizar o conteúdo o professor deve ter em mente todos aqueles fatores citados acima. Nada pode ser definido assim sem ter um porquê.

Apesar dessas falhas graves, muita gente continua ensinando e "aprendendo" assim. Isso torna a eficiência dos cursos muito baixa. Você tem ideia de por que tudo continua igual? Por que você acha que as coisas não mudam?

Instituições de ensino, professores e alunos continuam quebrando a cara usando modelos de aula falhos e ultrapassados. (sem perceber?)
--

Como eu estou fazendo? O exemplo que quero dar ainda está imcompleto. Estou em uma fase com poucas informações, sei a quantidade de alunos, sei mais ou menos seu tempo livro, seus recursos, mas não muito mais do que isso. Por isso esse planejamento é ainda bem preliminar. Além disso, estou colocando os meus valores nos objetivos pedagógicos acima dos valores da instituição, exatamente por não conhecê-los bem.

De acordo com um artigo anterior daqui do blog, quando vamos planejar uma disciplina ou uma aula, devemos começar pelos objetivos pedagógicos. É sobre isso que vou falar no restante do texto.

Eu enxergo a orientação a objetos como um poderoso mecanismo de organização do pensamento, modelagem e soluções de problemas. Acredito ser por causa disso o sucesso de sua utilização na indústria de software. Além disso, valorizo mais a competência de entender e poder utilizar a orientação a objetos no dia-a-dia do que o conhecimento de tecnologias e linguagens de programação específicas. Outra característica importante para mim é que devemos ser independentes de tecnologias específicas, assim o aluno deveria ser introduzido a várias linguagens disponíveis e atuais.

Essas são considerações que eu faço, meus valores, minhas crenças com relação à disciplina. Esse é um dos fatores importantes na hora de definir os objetivos de um curso. Um outro fator são os valores e crenças com relação ao processo de ensinar.

Por exemplo, eu acredito que é muito mais importante para o aluno praticar com a mão na massa do que receber informações. Acredito que o aluno aprende muito mais se faz atividades relacionadas a assuntos que tem interesse. Por fim, acho que o professor deve ensinar o aluno a se virar sozinho e conseguir resolver problemas, se emancipar.

Dessa forma, eu consigo esboçar um objetivo pedagógico explícito para uma disciplina de POO: os alunos devem saber o que é orientação a objetos (OO), saber modelar situações e problemas usando OO, saber o suficiente das linguagens OO para explorar a Internet em busca de aprofundamento.

Com essa sentença eu não estou considerando muitas coisas, como a posição da disciplina no currículo, o curso de graduação, a situação da instituição, etc. Por isso ainda é um objetivo pedagógico bem genérico. Ao longo dos próximos artigos poderemos refiná-lo.

Você gostaria que eu considerasse algo específico? Alguma situação que enfrenta ou enfrentou? Como você faria o objetivo de uma disciplina de POO?

O próximo passo é a definição das avaliações e então das atividades. Que avaliações você tem em mente quando lê esse objetivo pedagógico? E que atividades, que aulas imagina realizar para alcançar esses objetivos?

Até o próximo artigo!