segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Alunos bons e alunos ruins

Conversando com outros professores colegas na instituição em que trabalho como docente, sempre que falamos dos cursos e turmas vêm à tona quem são os alunos bons e quem são os alunos ruins. Chega ao ponto em que a turma é mais facilmente reconhecida pelos funcionários quando identificamos os alunos "bons":

- Eu dou aula para o 3o semestre do curso de redes
- Hmmm, não conheço essa turma... Ah, lembrei, é a turma do Joãozinho não é?
A joia dos olhos dos professores! A única motivação de continuar dando aulas.


Mas o que faz um aluno bom, de maneira que o professor deixa de prestar atenção em toda a turma e prestar atenção apenas nele? Alunos bons são "inteligentes", "esforçados", "interessados", etc. Enquanto que os alunos ruins não têm nenhuma dessas características. Parece que faz parte do trabalho do professor perceber quais alunos são bons, quais são ruins e quais "conseguem passar na matéria".

Professores adoram comentar sobre como os alunos bons são bons, e criticar os alunos ruins. "Ah, nessa turma só o Joãozinho se salva, os outros são ruins!"
"É mesmo, eu dei uma prova outro dia e só ele tirou nota boa..."

Acho toda essa conversa muito triste, muito errada. Acredito que o papel do professor é desenvolver interesse nos alunos, para que cada um trabalhe sua inteligência no que gosta e se esforce nisso. Esse é um ensino bom e para todos!

Existem muitos tipos de alunos "bons", os interessados, os curiosos, e aqueles que fazem de tudo para tirar boas notas. Não gosto de valorizar aqueles que só querem tirar notas, para mim esse é um aluno ruim. Do outro lado, existem vários tipos de alunos "ruins", os bagunceiros, os que estão cansados demais, os desinteressados. Grande parte deles está sedenta por aulas boas e conteúdos interessantes... onde estão?

O que acontece na prática é que o professor identifica os alunos que funcionam bem com o seu jeito de trabalhar e simplesmente ignora os outros, ou os culpa por não se adaptarem às suas aulas. A culpa é sempre do aluno! Os alunos de hoje em dia são ruins! Os alunos só querem saber de festa!

O professor deve fazer com que todos os alunos fiquem bons, cada um do seu jeito. O professor não deve simplesmente agraciar os "bons" e eliminar os "ruins". Muitos alunos ruins podem se tornar bons com uma mudança de atitude dos professores. No fim das contas, as notas boas dos bons alunos não são mérito dos professores, pois eles já eram bons antes de terem as aulas. Enquanto que as notas ruins dos alunos ruins podem ser a demonstração do trabalho ruim de professores ruins.

Defendendo o lado dos professores

Esse comportamento dos professores é (parcialmente) justificado. Principalmente no ensino básico, as condições de trabalho são muito ruins. Tenho um amigo professor que dava aula para 17 turmas e tinha quase 1000 alunos. Como uma pessoa consegue administrar tanta gente e trabalhar para que todos fiquem bons? Acho muito difícil...

Isso se reflete também no ensino superior. Hoje em dia há muitas turmas com 60, 80 e até 120 alunos. Essas situações condicionam o trabalho do professor a um nível muito ruim, eles perdem a sensibilidade com alunos que exigem outras formas de trabalho. Assim, quando trabalham em condições favoráveis, com poucas turmas de poucos alunos, não têm vontade ou conhecimento para fazer um bom trabalho.

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Enquanto isso a educação se resume a julgar e separar os alunos bons dos alunos ruins...

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