segunda-feira, 8 de abril de 2013

Professor de Engenharia deve “trabalhar” ou ser pesquisador?

Conversando sobre os velhos dias da faculdade com um amigo, e sobre meu desejo de ser professor, apareceu o comentário “nossa cara, eu acho que professor de engenharia tinha que trabalhar em empresas, porque só assim consegue passar o que o aluno de engenharia precisa, minhas melhores experiências foram com eles, e professor pesquisador fica fechado no mundo dele...”. Eu parei e pensei, falei que não concordo muito, e acho que “o buraco é mais embaixo”.

Primeiro vou explicar porque coloquei entre aspas o trabalhar no título do artigo. Isso é para indicar que “ser pesquisador” também é “trabalhar”, e que esse trabalhar entre aspas se refere a outros empregos que professores de engenharia podem ter. Ambas as atividades são tão dignas quanto.


Digo que o buraco é mais embaixo porque há vários fatores que influenciam a experiência que os alunos têm com os professores, não apenas as atividades além-lecionar dos professores. O primeiro que me veio à cabeça na ocasião foi: professores pesquisadores, em universidades públicas, geralmente gostam mais de pesquisar do que de lecionar, isso faz com que o interesse que têm nas aulas seja menor do que nas pesquisas, e que não se esforcem muito em melhorar a experiência dos alunos. Por outro lado, ainda em universidades públicas, professores que não são pesquisadores exercem essa profissão além de seus empregos regulares (também em geral) especificamente porque gostam de lecionar, e isso muda completamente a importância que dão à experiência dos alunos.


Outro fator relevante é o peso dado pelas universidades públicas, forçado pelo governo, forçado pelo meio acadêmico internacional, aos índices de qualidade das aulas frente aos índices de qualidade de produção científica. Um professor pesquisador precisa de índices muito mais exigentes em seu papel como pesquisador do que em seu papel como professor para progredir em sua carreira, o forçando a se dedicar muito mais à investigação.

Além disso, pelo menos em minha experiência, os professores não pesquisadores são responsáveis por disciplinas do final do curso, a partir do penúltimo ano. Nesse momento os alunos já estão cansados da “academicisse” dos professores pesquisadores que tiveram durante todo o curso, e estão sedentos para se formarem e por experiências do mercado de trabalho. Isso torna os professores não pesquisadores mais interessantes.

Há ainda muitos outros fatores, com certeza. Existem professores pesquisadores que dão aulas incríveis. Existem alunos que gostam mais de pesquisa do que do mercado de trabalho. O projeto pedagógico do curso, a base de conhecimento do aluno antes de entrar na faculdade, etc. Vocês conseguem pensar em outros?

Minha resposta à pergunta do título é: depende. Acredito que professores pesquisadores sejam em geral mais apropriados para certos momentos do curso e que professores não pesquisadores sejam mais apropriados para outros. Quais foram suas experiências com esses “tipos” de professores? Acredita que podemos aproveitar dos dois tipos de experiências de nossos mestres?

Um comentário:

  1. Hummm... e agora? Eu não estudo Engenharia mas estudei História... e tenho lá minhas "histórias" pra contar!

    No meu curso de História, a pior professora, disparada, era uma "Pesquisadora Professora": ela lecionava justamente o ramo da História que eu mais gosto (História do Brasil) mas seu desempenho em sala de aula era sofrível (pra dizer o mínimo).

    Houve um episódio que essa "Professora Pesquisadora" chamou uma "Colega Especialista" pra falar sobre Escravidão no Brasil Colônia, e eu fui todo entusiasmado, pensando que finalmente teria uma boa aula.

    Que decepção!

    Essa tal "Colega Especialista" era no mínimo tão ruim quanto nossa já "querida" professora titular... não que eu não tivesse aprendido nada na aula, em conteúdo ela foi muito boa e reveladora, mas com uma didática... enfim, nenhuma didática!

    Saí com os nervos em frangalhos... foi muito sofrimento pra adquirir tal conteúdo.

    Já os "bons" professores tinham uma boa formação e dedicação, e com isso eu quero dizer: não apenas tinham uma dedicação maior em lecionar, como já tinham ou produziam uma carga de pesquisa muito bem estruturada, que servia de "base" para suas boas aulas!

    Acho que a questão está no equilíbrio entre dedicação e talento para dar aulas e organização para produzir boas pesquisas.

    É isso.

    ResponderExcluir