segunda-feira, 17 de junho de 2013

Objetivos, Avaliação e então Aula

Nesses últimos artigos tenho feito comentários gerais sobre educação e alguns especificamente sobre ensino de engenharia. Acho que está na hora de começar a publicar textos mais voltados para professores de engenharia, ou seja, mais concretos e próximos à prática do dia a dia.

Conversando com alunos, engenheiros formados e professores de engenharia, vi que em geral temos a impressão de que a pedagogia é um monte de blá blá blá. Muita conversa e pouca ação para melhorar o ensino. Acredito que isso deve à dificuldade de comunicação entre as duas áreas. Este artigo tenta reduzir a distância entre o que se faz na pedagogia e o que os engenheiros conseguem aplicar. Basicamente é uma forma de "engenheirização" do processo de planejar e preparar aulas ou disciplinas.

Como aluno de mestrado, participei da conferência chamada Frontiers in Education em 2011. Essa é uma das maiores conferências no mundo sobre ensino de engenharia e informática aplicada à educação. Recomendo bastante a leitura dos artigos e principalmente dos workshops realizados nesses eventos.

Um dos momentos mais marcantes para mim foi a participação em uma oficina com o título: Objetivos, Avaliação e Aula. Para mim, ela resume o básico que todo professor da área de exatas/tecnológicas que não gosta de estudar pedagogia deve saber. A ideia é oferecer um guia, um método, para o professor preparar e planejar suas aulas ou uma disciplina.

Professores devem definir objetivos, depois a como avaliar como os alunos estão com relação aos objetivos, e só então planejar as aulas que devem preparar os alunos para as avaliações 

1. Defina o Objetivo Pedagógico

O "Objetivo Pedagógico" nada mais é do que "aquilo que os alunos devem ter aprendido no final da aula ou disciplina". Essa deve ser a primeira coisa definida ao pensar em uma disciplina ou aula, e muitas vezes nossos professores nem sabem o que é ou qual a importância.

Basicamente, se você não sabe, não tem em mente explícita e detalhadamente, o que os alunos devem aprender, você não vai saber o que e como ensinar. Por exemplo, ao planejar uma disciplina ou um curso de  termodinâmica, o professor pode ter como objetivo ensinar os conceitos fundamentais, ou os procedimentos para solução de problemas, ou procedimentos para projeto de dispositivos, etc.

2. Defina a Avaliação

Definir o objetivo como o primeiro passo é até uma ideia normal. O segundo passo, na minha opinião o mais inovador, é definir o método de avaliação. O método de avaliação diz quais mecanismos e processos serão utilizados pelo professor para avaliar o cumprimento dos objetivos pedagógicos definidos anteriormente.

Existem vários métodos de avaliação possíveis. Um deles é a prova escrita. Outros são trabalhos, seminários, relatórios, projetos também utilizados em cursos de engenharia. Outros não tão comuns são provas orais, avaliação por pares, redações, auto-avaliações, etc.

A avaliação deve corresponder exatamente ao objetivo pedagógico. Por exemplo, se você tem como objetivo que os alunos aprendam os conceitos fundamentais da termodinâmica, será que uma prova escrita com exercícios para o aluno fazer contas realmente avalia isso? Para mim a resposta é: depende. Existem exercícios que podem avaliar conceitos fundamentais, existem perguntas dissertativas que também fazem esse papel. O professor deve definir uma ferramenta adequada de avaliação dos alunos e então prepará-los para reponde-la satisfatoriamente.

3. Defina o Conteúdo, Atividades e as Aulas

Finalmente, o conteúdo, as atividades e as aulas devem ser planejadas e preparadas em função da avaliação. Se o professor deseja que os alunos saibam "de cor" as definições fundamentais da termodinâmica, deve prepará-los para responder a essas perguntas. Se o professor deseja que os alunos saibam resolver exercícios, deve dar aulas e atividades que ajudem os alunos a resolve-los.

As aulas devem ser muito alinhadas com as avaliações planejadas, para não frustrar os alunos e não desperdiçar trabalho do professor com conteúdos que não serão avaliados. Isso torna a etapa de definição da avaliação a mais crítica das três, pois ela tem uma influência muito grande na preparação das aulas cotidianas.

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Os pedagogos com quem conversei acham essa abordagem simplista. Eu acho que para engenheiros é ótima, pois é sistemática e simples o suficiente para entendermos e aplicarmos corretamente. Não precisamos nos preocupar tanto assim com "detalhes" da pedagogia, devemos nos concentrar naquilo que gera mais valor para aumentar a qualidade do ensino.

Um fator delicado nessa abordagem está em como realizar cada uma das etapas. Como definir bons objetivos pedagógicos? Como definir boas avaliações? Como saber que as avaliações que eu preparei realmente avaliam os objetivos que definir para a disciplina? Como analisar se as aulas que dou realmente preparam os alunos para as avaliações?

Vocês conseguem pensar em respostas para essas perguntas? Pretendo mais para frente fazer textos que exploram cada uma das etapas e também dar exemplos mais detalhados de aulas e cursos usando essa abordagem. Têm preferência em algum assunto específico? Alguma dúvida ou sugestão?

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