segunda-feira, 24 de junho de 2013

Cursos Online Abertos e Massivos - rebatendo uma crítica

Recentemente li um artigo bem interessante criticando duramente a onda de Cursos Online Abertos e Massivos (Massive Open Online Courses - MOOC, sigla em inglês). Está em inglês e você pode acessar aqui.
MOOCs estão em grande alta hoje em dia

Posteriormente vou fazer um artigo mais completo sobre MOOCs. Este artigo se remete mesmo à matéria e tento comentar várias afirmações fortes ou equivocadas. Para entender o contexto, vou fazer uma introdução.

MOOCs são cursos gratuitos que qualquer um pode se inscrever, assistir a palestras e interagir com outros alunos para discutir o conteúdo das palestras e outros recursos, fazer atividades/exercícios e trabalhos/projetos. Existem grandes empresas/plataformas desse tipo de curso: Coursera, Udacity e edX. Entre no site, se cadastre em um curso e experimente, é realmente interessante. Muitos alunos, reportagens em jornais e tudo mais.

Só que o assunto começou a ficar delicado quando uma faculdade começou a aceitar disciplinas de cursos MOOC como créditos para cursos regulares. Isso mexe com o bolso das faculdades dos Estados Unidos e as pessoas começaram a ter medo. O artigo que vou comentar expressa esse medo.

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O artigo pergunta "COULD THE BEST ONLINE COURSES ONE DAY BE AS REWARDING, INFORMATIVE AND USEFUL AS A REAL CLASS?"

O primeiro ponto que vejo nessa pergunta é a distinção entre "cursos online" e "aulas reais", como se cursos online não fossem reais. Isso já mostra a visão do autor que prefere cursos não online aos cursos online. Segundo, ele compara o "melhor curso online" com uma aula "real" normal, sem especificar qual, como se qualquer aula não online fosse benéfica.

Minha resposta para essa pergunta é um grande sim. Tenho essa opinião porque acredito que cada objetivo pedagógico possa ser alcançado de uma maneira bem eficiente usando diversos métodos e abordagens, seja online, presencial, individual, etc. É impossível afirmar que para todos os objetivos pedagógicos o meio online é pior do que o presencial.

Em seguida, o artigo cita uma carta aberta que diz: IN ADDITION TO PROVIDING STUDENTS WITH AN OPPORTUNITY TO ENGAGE WITH ACTIVE SCHOLARS, EXPERTISE IN THE PHYSICAL CLASSROOM, SENSITIVITY TO ITS DIVERSITY, AND FAMILIARITY WITH ONE'S OWN STUDENTS ARE SIMPLY NOT AVAILABLE IN A ONE-SIZE-FITS-ALL BLENDED COURSE PRODUCED BY AN OUTSIDE VENDOR.

Aqui eu vou encanar com o "one-size-fits-all course". Essa afirmação diz que pelo fato do MOOC ser um curso padrão, ele não atenderia à diversidade que os cursos presenciais atendem. Isso é verdade, o MOOC serve para atender a alguns objetivos pedagógicos, e pode haver cursos presenciais que atendam a objetivos diferentes. Então não dá para substituir todos os cursos presenciais/locais com MOOCs. Mas essa não é uma desvantagem particular desses cursos, todos os cursos de todos os professores não atendem a quaisquer objetivos pedagógicos.

Essa seria, sim, uma desvantagem das políticas públicas, ou políticas de uma universidade, de adotar indiscriminadamente MOOCs para substituírem seus cursos específicos. Isso é muito ruim. Provavelmente esse é o medo da pessoa que escreveu o artigo e eu concordo com ela nesse ponto.

Outra coisa ruim, e relacionada a essa, que acontece em todos os lugares do mundo, é o "one-size-fits-all" em cursos presenciais!! Conversei com muitos professores em minha vida, e eles sempre falam: "preparar aula é difícil na primeira vez, depois é só arrumar uns errinhos e atualizar algumas coisas". Isso para mim é a mesma coisa: o professor preparou uma disciplina e dá do mesmo jeito todos os anos, independentemente dos objetivos pedagógicos do curso que se insere. Isso pode ser uma desvantagem atual dos cursos presenciais, já que os online são geralmente cursos originais ou presenciais reformulados.

WE FEAR THAT TWO CLASSES OF UNIVERSITIES WILL BE CREATED: ONE, WELL-FUNDED COLLEGES AND UNIVERSITIES IN WHICH PRIVILEGED STUDENTS GET THEIR OWN REAL PROFESSOR; THE OTHER, FINANCIALLY STRESSED PRIVATE AND PUBLIC UNIVERSITIES IN WHICH STUDENTS WATCH ... VIDEOTAPED LECTURES AND INTERACT ... WITH A PROFESSOR THAT THIS MODEL OF EDUCATION HAS TURNED INTO A GLORIFIED TEACHING ASSISTANT.

Novamente, esse é um problema da forma com que as universidades usam a abordagem MOOC, e não da abordagem em si. Mesmo assim, gostaria de comentar outros pontos levantados por esse trecho. Professores que dão cursos online também são reais. Nem toda universidade com professores reais é boa. Cursos online não são apenas baseados em palestras, e cursos presenciais muitas vezes são mais pesados em palestras do que alguns online. Por fim, "teacher assistant" ou monitor de cursos online é uma profissão muito subestimada hoje em dia. Ela exige muito conhecimento e habilidades que hoje em dia nem temos bem definidas.

Outro trecho segue assim: BUT IF ACADEMICS ARE RESPONDING WITH HOSTILITY TO THE IDEA OF BEING REPLACED BY GLORIFIED YOUTUBE VIDEOS, IT'S ALSO OBVIOUS THAT THERE'S A REAL APPETITE FOR ONLINE LEARNING, AND THAT IT IS COLOSSAL.

Sobre a primeira parte da frase. Se existem professores hostis a vídeos gravados, é porque eles têm medo das pessoas acharem que o vídeo gravado é melhor do que a sua aula. Eu acho que se o vídeo gravado for melhor do que a aula, ele deve substituí-la sim! (parafraseando Sugata Mitra). Os professores hoje devem analisar as possibilidades disponíveis e melhorar a sua forma de trabalhar, e não reclamarem que serão substituídos por serem ruins.

Sobre a segunda parte. É bem possível que haja um grande apetite por conteúdo online porque o conteúdo que é dado presencialmente não seja interessante, e isso contradiz argumentos do artigo. Não se deve separar as abordagens presencial e online, devemos nos apropriar do que é melhor de cada uma e usar para ensinar e aprender. Isso pode, e deve, ser feito em nível governamental, institucional, curricular e disciplinar.

Para fechar, um último trecho: SO IS "THE ANCIENT GREEKS" A SERVICEABLE INTRODUCTION TO THE HISTORY AND LITERATURE OF ANCIENT GREECE? AND HOW! IT'S FANTASTIC: SERIOUS, FUN, BEAUTIFULLY PRESENTED AND ENGAGING AS ANYTHING. WHAT IT IS NOT IS A CLASS. THERE ARE NO PAPERS, NO GRADES, NO FINAL; JUST SEVEN SHORT QUIZZES, ONE ADMINISTERED AT THE END OF EACH WEEK.

"The Anciente Greeks" é um curso online que a autora do artigo fez. Veja só o raciocínio: "O curso é uma ótima introdução ao assunto, mas não é um curso de verdade porque não há trabalho final e notas". Não concordo. Eu tive ótimas experiências de aprendizado em cursos "de verdade" que também não tiveram trabalho final e a nota era simplesmente uma burocracia. Por outro lado, tive péssimas experiências em que havia trabalho final e nota.

De qualquer forma os MOOCs ainda estão nascendo. Eles têm muito o que evoluir, incluindo em avaliação. Por exemplo, eu realmente não acharia razoável aproveitar "The Ancient Greeks" como créditos de um curso de graduação por causa de seu formato, não por ser online. Vou fazer depois um artigo sobre boa avaliação em cursos online.

Uma frase que concordo com o artigo: Estamos aqui para descobrir como usar a tecnologia para melhorar a educação de todos e para proteger o sistema educacional de depredações provocadas por empreendedores/empresas procurando lucro. Devemos ser conscientes, aproveitar o que há de bom e rejeitar o que há de ruim.

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