segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Quem sabe faz, quem não sabe ensina.

A frase do título deste artigo é um mote que muitas pessoas usam para desmerecer a carreira docente. Particularmente nas áreas técnicas, como a engenharia. Ela, porém, contém vários valores e preconceitos que não compartilho, por isso gostaria de escrever um pouco sobre isso.

Rita Lee estaria certa?


No meu caso, estou atualmente preocupado com isso. Me vejo como alguém que deseja seguir a carreira docente, mas se vê pressionado por escolher uma área de especialização. Eu mesmo me pressiono, dizendo: sei um pouco de tudo e acabo não sabendo nada. Esse é outro motivo para escrever sobre isso, colocar as ideias no papel organizando-as de forma a me convencer de que estou no caminho certo. Ou entrar no caminho certo, caso perceba que esteja indo para o lado errado.

Quem sabe faz, quem não sabe ensina. Isso quer dizer que especialistas trabalham fora da carreira docente, e que docentes não são especialistas. Minhas experiências nas universidades que estudei contradiz essa frase em todos os pontos. Meus professores eram os maiores especialistas do Brasil em suas respectivas áreas, e me davam aulas.

Suponhamos que essa não é a realidade de todas as instituições e de todos os professores. Assim, se a frase tiver o mínimo de veracidade, boa parte dos especialistas não são professores, e aqueles que o são têm pouco conhecimento em comparação com os especialistas. Escrevendo dessa maneira a injustiça que a frase proclama fica evidente. Estamos cobrando que duas pessoas (ou dois grupos de profissionais) tenham o mesmo 'nível' de conhecimento exercendo funções diferentes: um aplica diretamente o conhecimento em suas atividades profissionais, enquanto que o outro o utiliza indiretamente para ensinar.

Ou seja, o professor precisa saber, além do que o especialista, ensinar. A comparação é injusta. Além disso, desconsidera o profissionalismo da carreira docente. O professor profissional em ensino é aquele que possui formação, interesse e responsabilidade com a aprendizagem de seus alunos. Isso contradiz outra frase preconceituosa a professores, a que diz "Qualquer um pode ser professor, basta saber o conteúdo". Toda pessoa que já se aventurou de verdade em ser professor, mesmo que por um período curto, ou percebeu que ser professor exige certos conhecimentos e talentos que nem todos possuem, ou não entendeu o que fazia.


É claro que o professor não pode ensinar aquilo que não sabe. Ele precisa de um 'nível' de conhecimento o suficiente para os objetivos pedagógicos do curso/disciplina. Nos dias de hoje, principalmente em faculdades particulares, acontece frequentemente que pessoas com preparo em algumas áreas serem responsáveis por aulas em outras, por falta de profissionais contratados. Precisamos cobrar dos professores tanto um preparo na área (não necessariamente no mesmo nível de um especialista) quanto um preparo em docência.

Assim, ser professor em si já é uma profissão. Isso faz com que o professor, ao buscar o conhecimento no nível do especialista, tem duas profissões. Apesar de tudo, o professor continua sem reconhecimento, com salários baixos e muitas responsabilidades...

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