segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Muitas ferramentas para resolver nenhum problema

Pegue uma disciplina da engenharia básica, por exemplo: Circuitos Elétricos. Eu fui analisar a ementa em três universidades daqui de São Paulo:

Unicamp
Elementos e Leis de Circuito. Equipamentos e soluções de circuitos por métodos algébricos e matriciais. Equacionamento de circuitos dinâmicos. Circuitos monofásicos

Unesp
Circuitos elétricos em regime permanente; Bipolos; Leis de Kirchhoff; Associação de Bipolos; Fontes de Tensão e Corrente; Circuitos de corrente contínua; Introdução à Análise Geral das Redes; Técnicas de Simplificação; Teoremas; Métodos Clássicos para Resolução de Circuitos; Circuitos de corrente alternada – excitação senoidal; Valor Eficaz; Fasores; Conceito de Impedância e admitância; Potência complexa e Fator de Potência; Diagramas Fasoriais

Usp
Conceitos básicos e bipolos elementares. Associação de bipolos e leis de Kirchhoff. Leis de Kirchhoff fasoriais. Análise nodal de redes resistivas. Técnicas de simplificação e Teoremas gerais de redes lineares : superposição, Thévenin e Norton. Redes de 1a e 2a ordem. Equações diferenciais lineares. Potência e energia em regime permanente senoidal. Redes trifásicas.

O que é feito em cada uma das ofertas dessas disciplinas? De acordo com o programa no link da Usp, em cada aula o professor apresenta um conceito ou sub-conceito contido na ementa. Isso muito provavelmente é feito também nas outras universidades.

Aulas super instrutivas sobre ferramentas matemáticas para circuitos...

No final, disciplinas como essa servem para dar aos alunos um conjunto gigante de ferramentas. Porém, essas ferramentas não servem para resolver nenhum problema, porque os alunos não são colocados em situações problemáticas. O máximo que eles têm é um exercício abstrato sem contextualização em que sabe que precisa aplicar uma das ferramentas recentemente "aprendidas".

Em disciplinas assim, os alunos aprendem a ignorar que precisam estar motivados para aprender os assuntos, ou pelo menos esquecer que aquilo que aprendem é significativo para suas vidas. Quando o professor apresenta um conceito, ele pode até dar um ou outro exemplo, que dificilmente o aluno consegue se apropriar. Ou então quando o aluno pergunta "professor, para que serve isso?", o mestre responde "ah, isso é muito útil, serve para !%$#%* &#()(*!# e (*&!# )!*#&" (não são palavrões, são palavras que não significam muita coisa nesse estágio do curso. O aluno pode até achar que entende, mas ele só vai entender de verdade se um dia for trabalhar em uma empresa e precisar aplicar aquele conceito.

Eu acho que isso não está certo.

Poxa vida, com tanto componente elétrico e eletrônico baratinho por aí, por que as universidades não reformulam as disciplinas de circuitos elétricos para serem totalmente em laboratórios? Por que não usam problemas do dia a dia para os alunos terem os problemas para poderem usar as ferramentas? Para que continuar desenhando fasores na lousa sendo que um computador pode mostrar o conceito muito melhor?

Seria tão legal aprender circuitos assim...

Sei que os cursos têm disciplinas de laboratório, mas geralmente são em semestres posteriores à disciplina teórica. Em caso de serem simultâneos (o que eu acho bem melhor), é bem possível que as ferramentas expostas nas aulas não tenham relação com os experimentos propostos...

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Estou pensando em fazer uma proposta de currículo para um curso de engenharia (talvez começar com um curso técnico) baseado o máximo possível em problemas práticos. A equivalência com currículos tradicionais como esses que citei aqui seria feita com a lista de conceitos/ferramentas das ementas de todas as disciplinas mapeada com o que é necessário para resolver os problemas práticos. O que você acha dessa iniciativa? Quer me ajudar?

3 comentários:

  1. Leite,

    Você já deu uma olha como funciona os cursos do SENAI, ele são muito mais práticos do que teóricos principalmente quando se trata de elétrica e hidráulica(Que eu fiz).

    Porem quase todos os cursos são voltados para industria!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Boa!

    Os cursos do SENAI geralmente são de formação técnica não é? Que eu saiba eles têm uma carga prática muito maior do que os outros cursos em geral, o que é muito bom. Acho que nesse quesito é realmente uma ótima sugestão de exemplo a ser seguido.

    Ser voltado para a indústria nem é tão ruim. O que eu acho ruim é que por ser formação para técnicos, a abordagem das aulas e práticas é para o aluno aprender procedimentos e a conseguir executá-los repetidamente. Eu gosto mais de cursos que ajudem os alunos a pensar, elaborar planos, soluções, etc.

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